Cuidado com a língua!



Por Wallace Sousa


"Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo." Tiago 3:2

Como bem disse Tiago, a língua é um pequeno membro, mas que pode causar grandes prejuízos e fazer grandes estragos. Reconheço que existem muitas pessoas que sabem se expressar e são excelentes comunicadores. Todavia, mesmo para esses, em que o falar é uma arte, esse ofício continua sendo perigoso. Por que será que nós, seres humanos, demoramos tantos meses para aprender a balbuciar as primeiras palavras, anos para escrever as primeiras frases, e ainda sofremos tanto em lidar com as palavras?

A resposta, apesar de óbvia e simples, pode causar espanto: o problema das palavras não está nelas, mas no que está por trás delas, a dona língua. Então, é nela que vamos colocar nosso foco e tentar aprender o porquê de ela ser tão… problemática.

Você já teve problemas com sua língua? Não, não estou perguntando se você mordeu ou levou um choque e ela se enrolou em sua boca, não é isso. Aliás, se esses fossem os maiores problemas que alguém poderia ter com sua língua, nós não teríamos problemas com a língua. Teríamos COM ela, mas não por causa dela! Entendeu, né! Mas, por que esse pequeno membro que se esconde atrás de nossos dentes e só sai para fora dos lábios se provocado, causa tantos problemas?

Mas, vamos aos males da língua que você precisa conhecer e evitar. O texto base, caso queira conferir, encontra-se em Tiago 3. 4 a 12.


1. A língua possui poder de mudar nossos planos (Tiago 3.4): quem nunca teve planos e projetos frustrados por causa de uma palavra dita fora de hora, mal falada ou mal compreendida? Já aconteceu comigo, já deve ter acontecido com você, com pessoas próximas… são coisas que acontecem. Existem casos de planos que foram frustrados porque pessoas invejosas inventaram mentiras e calúnias. Uma língua má pode até mesmo frustrar sonhos, por isso devemos ter cuidado com quem compartilhamos nossos projetos. Mas, caso seu sonho tenha sido frustrado, não desista: dê a volta por cima e mostre a seus críticos que você pode ser, sim, um vencedor.

2. A língua pode nos fazer arrogantes (v.5a): eu não sei você, mas se existe um tipo de pessoa que eu considero difícil de se conviver é a pessoa arrogante. Eu me recordo de um frase interessante: “as pessoas mais difíceis são os homens que se consideram insubstituíveis e as mulheres que se consideram irresistíveis”. O que ambos têm em comum? A arrogância. Existem muitos fatores que podem fechar as portas para você, mas poucos se comparam ao da arrogância. Tome cuidado para que sua língua não lhe deixe em situações constrangedoras, fazendo-lhe passar por humilhações desnecessárias.

3. A língua possui grande poder de destruição (v.5b): não se iluda – muitos projetos de grande envergadura já foram destruídos porque alguém disse o que não devia para quem não deveria saber. Você já se deu conta de que, no mundo empresarial, existem até cláusulas de demissão por conta de violação de segredos industriais? E que existem espiões especializados que são contratados para tentar descobrir e desvendar projetos secretos de indústrias concorrentes? Isso já foi até tema de grandes filmes, tais como Inception (A Origem, 2010). Claro, na vida real não é bem assim – deve ser bem pior… Saiba guardar segredos, e não apenas os seus, mas os dos outros também.

4. A língua possui grande poder de contaminação (v.6b): o verso diz que a língua está entre os membros e contamina o corpo todo. Perceba o poder das palavras para o mal, de dividir, ficar entre duas partes e, mesmo começando aos poucos, acaba por contaminar tudo. Você já deve ter observado como uma única gota de óleo pode contaminar bastante água (na verdade, a proporção é de um litro de óleo de cozinha para 1 MILHÃO de litros de água!). Seja criterioso com suas amizades, pois maus amigos podem contaminar suas fontes de energia e recursos e, quando menos você se der conta, estará exaurido!

5. A língua possui grande poder de resistência (vv.7, 8): essa resistência, infelizmente, é para obedecer. Em outras palavras, a língua é indomável! Um interessante exemplo de ser indomável é o cavalo selvagem. Ninguém consegue montá-lo e, se conseguir, pode sofrer ferimentos fatais. Você já viu aqueles cavalos e touros de rodeios(2)? Os caubóis conseguem ficar montados por apenas alguns segundos, sendo que alguns já morreram ou ficaram aleijados por causa disso. Entenda: você precisa ter sua língua em rédeas curtas, e não descuide dela para não sofrer as consequências.

6. A língua possui grande poder de envenenamento (v.8b): ao se falar de envenenamento, podemos citar 2 interessantes exemplos: o das cobras e o dos agentes secretos. A conhecida jararaca brasileira tem um veneno que causa hemorragia, e basta uma pequena quantidade para matar um homem em poucas horas, se não houver socorro. Na época da Guerra Fria, espiões inimigos matavam alvos com pequenas doses de veneno em bebidas e até mesmo charutos. Você já ouviu aquele conhecido ditado “os melhores perfumes e os piores venenos estão nos menores frascos”? Pois é: é das menores línguas que saem, às vezes, as maiores calúnias…

7. A língua pode ser instrumento de maldição (v.9): infelizmente, existem muitas pessoas que fazem uso de sua língua para “decretar maldições”(3) na vida dos outros. Tanto bom uso que poderiam fazer de sua língua, e ficam falando palavras negativas, depreciativas e virulentas. Exemplo: pais que vivem dizendo a seus filhos, que eles são um zero à esquerda, que não servem pra nada, que nunca serão nada na vida. Claro, sei e reconheço que isso não é determinante na vida de ninguém. Só porque alguém diz que você é um “zero”, isso não quer dizer que você precisa ser um, não é mesmo? Mas, desprezar o impacto dessas palavras na vida e no futuro das pessoas é ignorar o claro efeito que essa influência tem. E você, usa sua língua para amaldiçoar ou abençoar a vida dos outros?

8. A língua pode ser instrumento de contradição (v.10): acredito que essa contradição possa ser encarada de forma mais profunda do que normalmente pensamos, de nos contradizermos no cotidiano, coisa que todos nós estamos sujeitos, em maior ou menor grau. Vou ilustrar com um exemplo: em uma grande capital brasileira, um delegado escolhido para ser chefe da polícia civil renunciou porque vazou um vídeo em que ele, meses antes, xingava e acusava o governador que o havia nomeado. Você já havia parado para pensar nisso: que o seu futuro pode ser prejudicado pelas palavras que você diz HOJE? Que tal evitar esses dissabores e, a partir de agora, começar a controlar melhor sua língua?

9. A língua pode ser fonte de amargura e tristeza (v.11): existe um ditado bastante popular que diz “aqui se faz, aqui se paga”. Embora alguém ache que isso corrobora a doutrina espírita do karma, eu discordo. Ela vem do verso bíblico sobre semeadura e colheita, em Gálatas 6.7, popularmente dito como “a semeadura é opcional, mas a colheita é obrigatória”. O que isso quer dizer? Que nossas palavras podem impactar nossa vida de forma abrangente, ou seja, não podemos escapar das consequências de nossas palavras, tenham elas sido proferidas ontem ou mesmo hoje. Perceba: você não deve esperar um futuro alegre se sua boca é, hoje, fonte de tristeza para os que lhe rodeiam. Assim como uma mesma fonte não jorra água amarga e doce ao mesmo tempo, mas a amarga acaba por contaminar a doce, cedo ou tarde você colherá as amargas consequências de suas palavras inconsequentes.

10. A língua pode ser fonte de frustrações e decepções (v.12): finalmente, corroborando e concluindo o tópico anterior, podemos afirmar, sem medo de errar que, àquele que profere palavras impensadas, injustas, maldosas e amargas, seu futuro lhe reserva muita frustração e decepção. Pode até demorar um pouco mas, um dia, as consequências vem. Vou fazer referência a um caso emblemático de que me recordo de um irmão que fez uma calúnia contra outro, já que acompanhei esse caso de perto, pois morava na cidade em que tudo aconteceu.

Depois de um tempo, o caluniador mudou-se, ainda quando o caluniado estava sofrendo as consequências da mentira espalhada. Todavia, depois de um certo tempo, o irmão caluniado foi inocentado e tudo voltou como era antes. Mas, e o caluniador? Sua mentira o acompanhou e, na nova cidade, foi acusado de abusar de adolescentes carentes. Foi preso, abusado na cadeia, apanhou horrores do outros presos e, depois de um tempo, solto por falta de provas(!). A última notícia que soube dele é que estava tentando conseguir emprego pois, mesmo solto, a mancha em sua imagem não saía… semeadura, opcional; colheita? Obrigatória.


Conclusão

O pior uso que se pode fazer da língua é usá-la como um instrumento de tortura emocional contra outras pessoas. No livro de Jó, capítulo 5 e verso 21, está escrito:

Você será protegido do açoite da língua. Jó 5:21 (grifo acrescido)

Observou o detalhe? A língua simbolizada com um chicote, açoitando os outros. Se você já passou pela desagradável experiência de ser caluniado (sim, eu já…) e difamado, você sabe o que é isso. Mas, mesmo que tenhamos sido vítimas de línguas ferinas, maldosas e cortantes, não mudemos de lado nos tornando algozes, carrascos de ninguém. Quer um conselho de amigo? Não seja você também uma daquelas pessoas que usam a língua como instrumento para torturar seus semelhantes.

Sabe por quê? Porque você não vai ganhar nada com isso. E, se ganhar, será temporário, passageiro e logo desaparecerá. Mas, você vai perder muito. O prejuízo pode até demorar a chegar mas, quando ele chegar, seu efeito será duradouro e, pior, permanente.

Pense nisso e faça bom uso da língua, ok?


Wallace Sousa escreve o blog Desafiando Limites e é colaborador do Tenda na Rocha

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