Wallace Sousa
O mundo hoje é um campo hostil para os cristãos verdadeiros, mesmo onde a religião dita cristã predomina. Não é muito diferente do passado, onde o cristianismo era minoria, o que mudou foi a forma de perseguição, mas ela nunca se extinguiu. O apóstolo Paulo já dizia: “quem quiser viver piedosamente, padecerá perseguição”
De fato, o mundo, para o cristão autêntico, é um verdadeiro campo minado, pois temos que ter o máximo cuidado onde pisamos. Às vezes, encontramos verdadeiros homens-bomba na própria igreja, comodamente sentados nos bancos, prontos para detonar sem o menor aviso ou alarme. E, ao explodirem, derrubam casas, famílias e, às vezes, igrejas inteiras.
Parece que, mesmo tendo vivido numa época onde nem se sabia a dimensão que as pelejas humanas um dia alcançariam, com a descoberta – e utilização – das bombas atômicas, a despeito da belicosidade então reinante, Jesus sabia que estava pisando em terreno explosivo.
Ao chamar seus escolhidos para seu discipulado, sua primeira frase foi: “segue-me“. Isso é muito marcante, algo que nos remete a uma situação singular. Jesus não estava apenas querendo ensinar seus discípulos, não estava apenas querendo lhes dar ‘lições de moral e ética’, não senhor. Ele estava, isso sim, querendo lhes ensinar a dar pisadas certeiras.
Talvez por conta do acidentado terreno da Judéia e adjacências, tanto geográfica como religiosa e politicamente falando, ele somente conseguiu concluir seu “personal training” em caminhada mais de 3 anos depois. Não sei se os discípulos eram um pouco lerdos para aprender, ou tinham pouca boa vontade, não sei. O que sei é que Jesus caminhou com eles todos esses dias, em vários lugares, mas, até sua ressurreição, eles ainda não haviam se dado conta de que, de fato, Jesus era um simples andarilho. Um andarilho por excelência, gostava tanto de caminhar, que até andou por sobre as águas.
Ele gostava de andar, de caminhar. E gostava de companhias em suas caminhadas. E, em uma dessas caminhadas, após ressurgir, revelou os maiores mistérios das Escrituras a apenas 2 caminhantes. Como eu gostaria de ter dividido com Ele aqueles 10km que dividiam Emaús de Jerusalém, numa prazerosa caminhada de fim de tarde…
Na época da 2ª Grande Guerra, quando um exército inimigo vinha avançando, e não havia mais como deter seu avanço, os soldados retirantes, antes do recuo, minavam o terreno. Era uma tentativa cruel e desesperada de impedir o avanço inimigo a qualquer custo. Minas terrestres são, ao redor do mundo, responsáveis por imagens indescritíveis de mutilação, as quais não tenho coragem de publicar (são quase mais horríveis que as de acidentes de veículos).
Mas, no exército invasor, havia um especialista em avançar em terrenos minados. Quando os soldados comuns chegavam, e verificavam que estavam diante de um terreno minado, não tinham outra alternativa, a não ser parar e esperar a chegada do especialista.
Então, ao chegar, o especialista analisaria o terreno para ver qual seria a melhor forma de chegar do outro lado. Se alguém lhe fosse perguntar: por onde é o caminho, por onde devemos ir?; sua resposta seria um simples “vem e segue-me”. Você já parou para pensar o que é seguir alguém em um campo minado? Se ele para, você para, se ele vira à esquerda, você vira também, se ele dá meia volta, você tem que dar meia-volta também. Você só pode botar o pé onde ele acabou de tirar o dele.
Mas, por mais difícil e angustiante que seja seguir um especialista em um campo minado, não há outra alternativa. Desviar-se de seu caminho significa, simplesmente, experimentar a dor cruel de uma explosão repentina e, enfim, a morte.
Nosso Especialista, Jesus, sabia onde pisava, apesar de, às vezes, parecer andar em círculos. Os especialistas deste mundo muitas vezes nos dizem: “sigam-me, eu sei o caminho“, mas seus caminhos, ao final, são de morte, dor, destruição e angústia. Jesus não apenas sabia o caminho, Ele sabia mais do que isso: Ele era o Caminho.
Os discípulos demoraram a entender o real significado do “segue-me“. Somente depois da ressurreição é que eles foram aprovados no discipulado e, então, foram promovidos a apóstolos (enviados), e a frase que marcou essa fase foi, simplesmente, “ide“. Começaram com “sigam-me“, e concluíram com “vão“. Pedro, já no final da carreira, deixou registrada a fórmula da vitória: “Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas” (grifos acrescidos).
Os israelitas, ao saírem do Egito, levaram 40 anos perambulando no deserto, sem conseguir aprender o que é caminhar com Deus. E ainda tiveram a dica “anda na minha presença”, mas a desprezaram. Moisés, ao ser chamado por Deus, a primeira coisa que fez foi tirar as sandálias, para calçar outras, revestidas com a autoridade e o poder de Deus. Moisés gostava tanto de caminhar com o Senhor que, em certa feita, chegou a dizer: “se o Senhor não for conosco nessa caminhada, não nos faça sair daqui”!
Não é à toa que, na armadura do cristão, entre as indumentárias necessárias à batalha da vida, estejam claramente destacadas lá, em Efésios 6, as sandálias do evangelho da paz. Ou seja, embora muitos prefiram pegar atalhos, sair do Caminho, voltar atrás, voltar as costas ao Senhor, o segredo para atravessar o campo minado da vida ainda é seguir os passos do Mestre.
Eu que, desde pequeno, nos rincões nordestinos, aprendi a andar, correr e saltar pelas veredas ressequidas da caatinga nordestina, vendo Jesus dispor-se a caminhar ao meu lado, fico tão animado que dá vontade de dizer pra ele: “vambora!”.
Jesus foi a perfeita encarnação daquilo que Isaías profetizou séculos antes, dizendo: “E os teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele, sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquerda“. A prova? Eis aqui, nas próprias palavras do Mestre: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim“.
E, se tinha uma coisa que Jesus sabia, era para onde ia: para a cruz. “E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém“, em Lc 9.51 (grifos acrescidos). E como Ele foi até à cruz? Caminhando…
Wallace Sousa edita o Desafiando Limites e é colaborador do Tenda na Rocha
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