O Muro das Lamentações e as lamentações sem muro



Wilma Rejane

Três vezes ao dia, o profeta Daniel abria a janela de seu quarto e de joelhos orava em direção ao templo de Jerusalém Daniel 6:10. Orar com o rosto virado para o templo de Jerusalém era um hábito comum no Antigo Testamento, mas que isso, era o cumprimento de uma aliança, feita entre o Rei Salomão e Deus quando da consagração do lugar:

Toda a oração e toda súplica que qualquer homem fizer ou todo o teu povo Israel, conhecendo cada um a sua praga, e a sua dor, e estendendo as suas mãos para esta casa. Então ouve Tu dos céus, do assento da Tua habitação, e perdoa e dá a cada um conforme a todos os seus caminhos, segundo conheces o seu coração (pois só tu conheces o coração dos filhos dos homens). II Cr 6:29, 30

Assim, todo aquele que quisesse ter sua oração respondida, virava-se para o templo.  

Elias, quando orou por chuva em Israel, após três anos e seis meses de seca, do alto do Monte Carmelo, se voltou em direção ao templo I Reis 18:42, pois, estando no monte Carmelo, em um lugar que não podia ver o mar, estaria na direção Sudeste, de frente para Jerusalém, conforme observa a historiadora Janet Henriksen: "por este motivo, Elias enviou seu servo sete vezes em direção ao mar para ver se tinha nuvens de chuva, ele não podia ver o mar. I Reis 18:42.

O concerto firmado entre Deus e Salomão, ainda é levado a sério pelos Judeus atuais que fazem do Muro das Lamentações um lugar sagrado, um símbolo da religiosidade da nação. Naquele lugar , no século X a.c estava o primeiro templo, destruído pelos babilônios em 586 a.C. no acontecimento conhecido como Diáspora. No cativeiro Babilônico, os judeus viravam o rosto para o Leste, em direção ao templo para realizarem as preces. Esta orientação fora predita pelo próprio Salomão (I Reis 8:33-48) "Quando forem para o cativeiro, orarão voltados para este Templo"

A muralha que existe hoje, data da época de Herodes, é o que restou da destruição do ano 70 pelo imperador Tito. Essa “ sobra de muro”, também está profetizada: "E desta casa, que é tão exaltada, qualquer que passar por ela se espantará e dirá: Por que fez o Senhor assim com esta terra e com esta casa? E dirão por que deixaram ao Senhor Deus de seus pais, que os tirou da terra do Egito, e se deram a outros deuses, e se prostaram a eles, e os serviram" II Crônica7: 21,22

O Muro das Lamentações não deixa de ser um memorial da Soberania de Deus, uma prova viva de que Ele tem o controle de toda a história, conhecendo os séculos do principio ao fim. Ele é Deus! Quem poderia falar com tanta precisão a respeito do que foi, é e está por vir?

Toda ênfase dada até aqui sobre "orar em direção ao templo" não é para dizer que só é válida a oração feita em direção a Jerusalém. Tal ritual seguido até os dias de hoje,  foi falado por Estevão, minutos antes de sua morte: "E Salomão lhe edificou casa, mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos" Atos. 7:47-48. A presença de Deus é real em templos feitos de tijolos, porém, a priori, o motivo de sua manifestação nos lugares físicos é o templo do Espírito. E este, não pode ser limitado a espaço.


Jesus disse: “Derribai este templo e em três dias o levantarei” João 2:19


Jesus se referia a Sua ressurreição, ao mesmo tempo, afirmava,  a insuficiência da matéria como culto perfeito. A Verdadeira adoração é aquela fundada em Cristo Jesus, que brota do templo do Espírito, do coração, é fundamentada no espírito humano, no interior de cada um.

"Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher crê-me que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis ao Pai. Mas a hora vem, e agora é em que os verdadeiros adoradores, adorarão o Pai em Espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem." João 4:20-24.

Não é necessário ir até Jerusalém, subir ao monte ou estar em uma igreja para ser ouvido por Deus. O centro da atenção de Deus é o coração, quebrantado e contrito. É a fé em Jesus como Único e suficiente Salvador. Rituais não impressionam Deus, o que O impressiona é a sinceridade do coração, o quebrantamento.

Entendo que a simbologia de orar em direção ao templo em Jerusalém também tinha (e ainda tem) valor para profetas, reis e o povo, era o reconhecimento de dependência de Deus. Olhar em direção ao templo era como olhar para Deus. Essa comunicação transcendental da  oração é válida por todas as gerações, até que se findem nossos dias.

E foi enquanto estavam sendo levados cativos para Babilônia que Deus falou ao povo através de Jeremias: “Porque eu bem sei os pensamentos que tenho sobre vós, diz o Senhor, pensamento de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais. Então ireis e orareis a mim e eu vos ouvirei a buscar-me-ei e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração, e farei mudar a sua sorte” Jeremias 29:11-14.

Não consigo imaginar a vida nessa terra sem uma rotina de oração, orar em todos os momentos do dia e de joelhos antes do amanhecer, pois cada novo dia trás consigo novos desafios a serem vencidos e a oração invoca o poder de Deus para nos fazer vencer. A oração nos sustenta para santificação, promovendo rejeição ao pecado, direção. 

Jesus Cristo nos concedeu livre acesso a Deus, Ele é o intercessor e por meio Dele nossas orações se tornam agradáveis ao Pai 2 Coríntios 2:15. Por meio da oração somos fortalecidos, aliviados, renovados, purificados! Se nossa agenda de trabalhos é extensa, quer seja em casa ou em outro ambiente, não importa porquê a oração cabe em palavras e pensamentos: nos horários das refeições, entre um percurso e outro, na hora do banho e o mais maravilhoso de tudo: na madrugada, de joelhos ao lado da cama ou em outro cômodo.

Tenho uma rotina diária de muitas aulas, e quando estou em casa também costumo não parar arrumando e colocando coisas em ordem, contudo, meus lábios louvam o dia inteiro, quando estou no meu jardim ergo os olhos para o céu e louvo a Deus pelas plantas e árvores, pelos pássaros que saltitam o dia inteiro bicando mamões e outras espécies.

Uma das escolas que trabalho, por favor Divino fica a cinco minutos de minha casa, do outro lado da rua, enquanto caminho em direção a escola, recito o Salmo 23. No intervalo entre uma aula e outra, em direção a sala dos professores, também dá tempo recitar versículos. E assim, no momento das aulas, me sinto fortalecida e feliz para compartilhar minha fé com os alunos, ouvi-los e auxiliá-los em algo. Jesus Cristo é a nossa força, nossa esperança de cada dia, nossa firme certeza de redenção. 

O Muro das Lamentações sobrevive, contudo, Jesus Cristo vive em todo aquele que nasceu de novo para uma viva esperança! Jesus é o fundamento inabalável que está conosco todos os dias. 

Que Deus o abençoe, em nome de Jesus. 

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