Wallace Sousa
Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. 1 João 3:2
Eu já não sou mais o mesmo de antes…
Já faz algum tempo que reflito sobre esse versículo, e sobre o que se pode abstrair dele. Certa vez, ouvi uma rápida palavra de um pastor que me deu a deixa para discorrer sobre o que falarei a seguir. Quando ele fez suas primeiras considerações, eu disse a mim mesmo: “puxa, vai ser uma mensagem de arrebentar”. De fato, arrebentou com minhas expectativas, porque ele sequer arranhou a superfície do que poderia quando tratou da questão. Uma pena. Espero não cometer o mesmo tipo de atrocidade com meus leitores.
Esse verso encerra lições profundas. Profundas e impactantes. Impactantes e reveladoras. Verdades transformadoras, se é que me entende, e é sobre isso que pretendo falar e que, espero, tragam consolo, virtude e esperança para sua alma. Será muito ousado, talvez até arrogante de minha parte, mas vou me arriscar dizendo que, para alguns, a leitura desse post significará um marco em suas vidas, um divisor de águas, e uma transformação terá início, e jamais serão os mesmos de antes.
Mas, afinal, que lições são essas, tão importantes que merecem tanto sua atenção? Em primeiro lugar, o tempo. No verso, estão contemplados o passado, o presente e o futuro. Onde? Aqui ó:
Presente = agora somos filhos de Deus;
Futuro = o que havemos de ser;
Passado = implícito no “agora somos”, logo, “antes, não éramos”.
Refletindo sobre esses versos, somos levados, inconsciente e automaticamente a uma das grandes mazelas do gênero humano: a comparação. Mulheres que o digam, que gostam (gostam?) de se compararem umas às outras desde que me entendo por gente, e olha que nasci no século XX, no longínquo Segundo Milênio. Você já viu mulher comparando-se com outra? É simples, geralmente só tem duas opções disponíveis: ou ela quer m-o-r-r-e-r ou quer m-a-t-a-r a rival. Tão bucólico isso…
Voltando… a comparação nos leva a sentimentos conflitantes e contraditórios porque, quando olhamos para o futuro, sentimos tristeza ao descobrirmos que “ainda não somos o que deveríamos ser”. Ou seja, precisamos evoluir, crescer, amadurecer, etc. É constrangedor você admitir que ainda não é perfeito, embora todo mundo saiba disso. Você saber que ainda vai errar muito, que ainda faz coisas erradas, algumas vezes querendo, de fato, errar (pecar), sabendo que é errado (pecado) aquilo que quer fazer. Isso é algo… vergonhoso, para tentar resumir em uma palavra algo tão complexo.
Por outro lado, quando você olha para trás, há um certo alívio, pois descobre que já “não é mais o que era antes”. Deus iniciou, em você, um processo de transformação, em certos aspectos, radical. Pessoas que o conheciam há tempos agora dizem que já não o conhecem direito, que você mudou… Às vezes, nem entendem ou concordam com as mudanças, mas observam que algo ocorreu, e que você, de fato, é outra pessoa. Isso nos alivia, um pouco, a consciência ferida pelos erros que não deveríamos, mais, cometer.
Entretanto, essa visão, ainda que válida, não é a mais correta para balizar a comparação daquilo que somos com o que éramos e com o que seríamos. Essa visão é muito humana e material, e não corresponde àquilo que devemos, de fato, verificar. Qual seria, então a forma correta de ver nossa mudança em curso, nosso contínuo processo de transformação? A visão que equilibra os fatos humanos com o fator espiritual. E como seria isso?
Não é difícil, observe:
Ao olharmos o passado, temos que reconhecer que, se mudamos para melhor, esse mérito não é nosso, é de Deus que, por Seu Espírito, nos fez filhos do Reino do seu amor, ou seja, não há motivos para nos gloriarmos por sermos pessoas melhores do que fomos, um dia; ao vislumbrarmos o futuro, não devemos ter medo de não “chegarmos lá”, ou seja, de não conseguirmos vir a ser aquilo que Deus projetou para nós. Da mesma forma que Ele nos vem transformando, adequando à Sua vontade, Ele vai concluir Sua obra em nós. É só confiar, e descansar.
Essa frase de Michelângelo é singular, e ilustra aquilo que penso que Deus vê em nós:
A extraordinária sensibilidade de Michelangelo à pedra fazia-o ver a estátua como se ela já estivesse contida nela: “Eu só retiro as sobras, a estátua já está lá”.
Eu penso que é assim que Deus nos vê: como pedras em seu estado bruto, que precisam ser trabalhadas, quebradas, moldadas, para que a beleza que existe, escondida, em seu interior, aflore, cresça, desabroche.
Escultura de Michelangelo "Rei Davi" |
Existe, dentro de nós, aquilo que só Deus vê, tal como Michelângelo, que via, nos obtusos blocos de pedra, suas obras-primas escondidas em seu recôndito mais interior. Obras-primas que precisavam ser descascadas de suas impurezas impregnadas. E não é assim que Deus faz conosco? Não vai Ele nos “descascando” daquilo que não O agrada, daquilo que não O exalta?
Sim, somos a pedra bruta nas Mãos do grande Escultor do Universo, e Ele nos cinzela, “desce o malho sem dó”, não sem propósito, não sem um Plano em mente. É na ponta do cinzel de Deus que vai tomando forma o modelo que Ele quer que sejamos. É nos “ais” e “uis” que somos, literalmente, talhados à imagem e semelhança do Senhor, pelo Seu Espírito. É na fornalha da aflição onde nos derretemos, para sermos lançados na Bigorna de Deus, e amassados, moldados conforme Sua vontade.
Mas, por que tudo isso, por que tanta dor e sofrimento? Por que não nos deixar ser, como antes, aquele bloco de pedra bruta lá do começo? Porque o Senhor nos quer à sua Imagem e Semelhança. Somos obra de Suas mãos, e a obra que ele começou, Ele vai concluir em nós. Se o cinzel ou o martelo de Deus estão se abatendo impiedosamente contra você, suporte mais um pouco. Logo, Ele vai terminar e mostrar o resultado de Sua arte ao mundo.
Wallace Sousa escreve o Desafiando Limites e colabora com o Tenda na Rocha
Wallace Sousa escreve o Desafiando Limites e colabora com o Tenda na Rocha
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