Autor: Paulo Thomas Aquino
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A palavra “farmácia” é derivada da palavra grega φαρμακεία (farmakeia). Como é possível ver na foto, a palavra continua em uso na Grécia.
Imagine uma época em que uma pessoa ajuntava em si as prerrogativas de sacerdote, médico e feiticeiro. Imagine esse curandeiro tendo a capacidade de fazer poções a partir de plantas e outras matérias primas que poderiam fazer uma pessoa entrar em transe, curar uma doença ou deixar alguém doente. Esse é o contexto do desenvolvimento dessa palavra.
Assim, na língua grega, φαρμακεία (farmakeia) significa feitiçaria, artes mágicas; φαρμακεύς (farmakeus), fazedor de poções, mago; o verbo φαρμακεύω (farmakeuo) significa fazer poções, praticar magia; φάρμακον (fármakon) significa droga nociva, veneno, droga usada como um meio de controle, poção mágica, encanto, remédio, droga; e, finalmente, φάρμακος (fármacos) é aquele que é competente na prática do uso de ervas ou drogas; aquele que envenena, aquele que faz coisas extraordinárias pelo uso de meios ocultos, feiticeiro, mago.[1]
A Bíblia usa todas essas palavras. A versão grega do Antigo Testamento apresenta os magos do Egito como pessoas que usavam farmakeia (traduzido como ciências ocultas, Êx 7.11; 22; 8.14; 9.11). Isaías diz que parte do castigo de Deus seria devido à “farmakeia” (feitiçarias) do povo (Is 47.9, 12).
É no Novo Testamento, entretanto, que temos um maior uso dessa palavra, especialmente no livro de Apocalipse:
Gálatas 5.19-23 Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, 20 idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, 21 invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. 22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, 23 mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.
Apocalipse 9.20-21 Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses flagelos, não se arrependeram das obras das suas mãos, deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de pau, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar; 21 nem ainda se arrependeram dos seus assassínios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos.
Apocalipse 18.23 Também jamais em ti brilhará luz de candeia; nem voz de noivo ou de noiva jamais em ti se ouvirá, pois os teus mercadores foram os grandes da terra, porque todas as nações foram seduzidas pela tua feitiçaria.
Apocalipse 21.7-8 O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. 8 Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.
Apocalipse 22.14-15 Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida e entrem na cidade pelas portas. 15Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira.
O que temos como resultado desses textos? Podemos afirmar que a Bíblia fala sobre drogas. É evidente que o contexto bíblico é mais amplo, pois envolve a questão religiosa e de forças ocultas. Não podemos ignorar o fato, entretanto, de que se naquela época pessoas usavam drogas como um meio de aproximar-se de algum falso deus, as drogas na nossa época também são um meio de conseguir prazer ou consolo à parte do Deus que promete suprir aquele que o busca.
Deus humilhou os feiticeiros do passado (Êxodo 7—9) e fará o mesmo com aqueles que fascinam outros para o caminho das drogas. Deus lançará os feiticeiros no lago de fogo e enxofre (Apocalipse 21-7-8). A manipulação das potencialidades de plantas e outros elementos com fins danosos é chamada de obra da carne (Gl 5.19-23). Aqueles que tem o Espírito conseguirão dele amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio, sem necessariamente precisar recorrer às drogas.
Em suma, existe um aspecto espiritual no uso das drogas. Para ser mais claro: a dependência de drogas é pecado. Da mesma forma que aqueles que apelam para o sexo impuro, assassinato, mentira e idolatria como motivação, razão e prática definidora de suas vidas estão negando a Deus, assim também aqueles que se entregam às drogas (lícitas ou ilícitas, prescritas ou não) estão negando a Deus em prol de um substituto. Reconheço os aspectos da existência real de doenças, estruturas fisioquímicas que facilitam o vício e me condoo com o sofrimento dos dependentes e de seus familiares. Ainda assim, existe um aspecto em que a dependência de drogas, sendo um substituto para a dependência de Deus, é idolatria.
Há esperança, entretanto! Mesmo com o seu altíssimo poder de transformação do cérebro, escravização e destruição, as drogas não são mais fortes do que o Deus que criou as matérias primas das quais elas são feitas. Em Jesus Cristo há solução para as drogas. Nele há esperança para se reerguer novamente depois de uma recaída ou várias. Ele morreu e ressuscitou para nos livrar dos poderes do mundo, da carne e do diabo. Basta que a confiança e a esperança últimas do coração sejam depositadas totalmente nele. Por meio de discipulado, igreja, oração, leitura bíblica e demonstrações divinas e soberanas de poder, Deus ainda hoje faz aquilo que impossível para os homens.
[1] Definições extraídas de: William Arndt, Frederick W. Danker, and Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (Chicago: University of Chicago Press, 2000), 1049-50.
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