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No clássico livro de ficção de George Orwell, A Revolução dos Bichos, o autor descreve eventos em uma fazenda em que os animais se rebelam contra o fazendeiro e o expulsam. A partir daí, os próprios bichos implantam uma democracia em que todos seriam iguais. Infelizmente os porcos, ajudados pelos cães, começam a explorar os demais animais, enganando-os para ganhar mais e mais poder. Uma das tramas descreve o cavalo Sansão, que trabalha muito duro pela comunidade, crendo cegamente na promessa de que logo poderá se aposentar e viver confortavelmente no pasto. No entanto, quando ele adoece de tanto trabalhar, os porcos prometem levá-lo a um hospital veterinário. Quando o “hospital” vem buscá-lo, um dos animais lê na lateral do caminhão: “Matadouro de Cavalos, Fabricante de Cola... Peles e Farinha de Ossos. Fornece para Canis”.[1] Os porcos explicam que o hospital comprou o caminhão do matadouro e esqueceu de trocar a placa. E, mesmo que após alguns dias os porcos anunciem que Sansão morreu no “hospital”, os demais animais respiram aliviados, pois, segundo o autor, “eles nunca perderam a esperança”.
A obra é uma clara crítica a qualquer sistema totalitário, em especial ao comunismo. No entanto, apesar do estilo um tanto deprimente, o autor aponta com muita propriedade como somos suscetíveis a falsas esperanças. Na obra, o cavalo Sansão trabalhou até adoecer pela esperança de uma aposentadoria confortável; ao nosso redor, homens e mulheres correm desesperadamente atrás daquilo que, esperam eles, vai lhes trazer felicidade. Um dos amigos de Jó afirmou:
Esse é o destino de todo o que se esquece de Deus; assim perece a esperança dos ímpios. Aquilo em que ele confia é frágil, aquilo em que se apoia é uma teia de aranha. (Jó 8.13-14)
O ser humano precisa de esperança. Provérbios 13.12 afirma: “A esperança que se retarda deixa o coração doente, mas o anseio satisfeito é árvore de vida”. Sabendo dessa necessidade humana por esperança, o mercado das falsas esperanças prospera o tempo todo. Basta olhar um comercial ou as promessas de qualquer ideologia. Muitos, alguns até mesmo depois de se tornarem discípulos de Cristo, cedem às tentações das falsas esperanças. Não é sem razão que Paulo nos alerta em Efésios 5.6: “Ninguém os engane com palavras tolas...”.
O que marca uma falsa esperança? Deixe-me alistar pelo menos alguns princípios:
1-Qualquer ideia que ignore a Deus. É comum vermos cristãos se aliando a ideologias e partidos que têm como base uma oposição a Cristo. Qualquer esperança que exclua Deus é – sem exceção – uma falsa esperança.
2-Qualquer ideia que exalte a natureza humana. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Somos o ápice da criação, mas ao mesmo tempo estamos condenados sob a ira de Deus. Por isso nossa esperança deve incluir a salvação em Cristo.
3-Qualquer ideia que conceda a alguém ou a um grupo o direito de decisões absolutas. A história está repleta de indivíduos que foram elevados à condição de salvadores ou de líderes absolutos. O resultado final sempre foi tragédia e abuso.
O que então marca uma esperança verdadeira? Podemos começar com a passagem que o apóstolo Pedro escreve em 1 Pedro 3.15-16:
Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com mansidão e respeito, conservando boa consciência, de forma que os que falam maldosamente contra o bom procedimento de vocês, porque estão em Cristo, fiquem envergonhados de suas calúnias.
Esperança verdadeira começa com santificar (consagrar) Cristo como Senhor em teu coração. Não há esperança verdadeira sem Cristo. Todas as outras esperanças são falsas ou passageiras; em resumo, não dá para “apostar” sua vida nelas. Por isso somos chamados a estar sempre prontos a explicar por que nossa esperança está em Cristo. O verso seguinte dá uma séria indicação de como devemos defender nossa esperança. Não somos chamados a defendê-la com desrespeito ou com hostilidade. Não somos chamados a uma Jihad (guerra santa islâmica). Nosso discurso, nossas ações, a defesa de nossa fé devem imitar a atitude de Jesus – que foi mansa e cheia de amor. Se cremos que somos discípulos de Cristo, somente agindo como ele agiu vamos promover seu nome, seu reino vindouro. Infelizmente, temos ouvido muito discurso de ódio de não cristãos. É trágico, mas revela seus corações. O que deve nos surpreender e espantar é discurso de ódio vindo daqueles que se dizem cristãos. Cuidado para que “ninguém os engane com palavras tolas”!
Quero concluir copiando a oração de Paulo em Romanos 15.13: “Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo”.
Nota
1-George Orwell, A Revolução dos Bichos: Um conto de fadas (São Paulo: Companhia das Letras, 2007), p. 97.
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