João Cruzué
Vivemos em uma época de grande eficiência nas comunicações. Só para comparar, em 1996, vendi uma linha de telefone fixo por R$ 5.200,00. Hoje, com aquele dinheiro, eu poderia comprar uns dez bons smartphones e umas duas dezenas de linhas fixa. Além do telefone fixo, temos hoje outras formas eficientes de comunicação: o Skype, Twitter, Whatsapp, Instagran, Facebook, Google+ e sistemas operacionais para todos os gostos, sendo os maiores [1]: o Androide, o iOS, o Windows Phone, Firefox.OS, Tizen, Ubuntu Touch, Synbian e o Blackberry.
O interessante é que, mesmo com toda esta tecnologia, se ela não estiver ao alcance de uma antena, nada disso pode funcionar. Seu celular pode ficar mudo, talvez em um momento crítico, de extrema necessidade. Como cristão, devo acrescentar uma outra forma de comunicação, principalmente, para os momentos de grave crise. Sim senhor(a), há uma linguagem de comunicação que funciona há mais de 4 mil anos e ainda não foi desbancada por qualquer tecnologia de comunicação: a poderosa oração.
Quase todos oram. Há orações curtas e orações longas. Orações decoradas e orações espontâneas, orações excelentes (mas que não sou ouvidas) e orações simples que são respondidas. Deus responde orações, mas não a qualquer oração. Através da oração, Jesus disse que é possível transportar um monte para o meio do mar. Um fato indiscutível é que através da oração é possível receber um milagre, a cura de um mal incurável e a solução de problemas insolúveis. No Evangelho está escrito: Para Deus não há nada impossível. A oração sincera, de um cristão justo e humilde - quando é feita dentro da vontade de Deus - é a coisa mais linda e poderosa que alguém jamais viu. Esta poderosa forma de comunicação é gratuitamente dada por Deus a quem dela quiser fazer uso.
Em momentos de grave crise, a primeira coisa que o cristão deve fazer não é pegar do smartphone para ligar para o Hospital ou para a mamãe ou para o marido ou esposa. Esta não é a alternativa correta. Quando a coisa está muito difícil ou de qualquer forma que esteja, a PRIMEIRA coisa a ser feita é dobrar os joelhos e ORAR ao SENHOR JESUS CRISTO. Deus está no controle de qualquer situação, e se ele está no controle, é com Ele que devemos abrir a nossa boca para pedir uma luz, uma direção, uma porta aberta ou um socorro urgente. A paz entre o casal, a segurança do emprego, o backspace de uma besteira feita que não há como voltar no tempo para consertar. Nosso ânimo pode estar como o "pó da rabiola" que é na oração que convidamos Deus para agir em nosso favor.
Para ilustrar esta mensagem volto a meditar no Evangelho segundo Mateus, 15: 21, quando Jesus saiu de Genesaré com seus discípulos, deixando o Mar da Galileia em direção a Sidon e Tiro, nas margens do Grande Mar. O que ele foi fazer por lá? Para mim, ele tinha um encontro com a mulher cananeia e , nesse encontro, seus discípulos iriam aprender duas lições: a fé em ação e a quebra de preconceitos.
A Bíblia registra que a mulher cananeia surgiu de repente gritando atrás dos discípulos, a ponto de irritá-los. Ela clamava bem alto: "Senhor, filho de Davi, tem misericórdia de mim, pois tenho uma filha miseravelmente endemoninhada". Um espírito mau passou a dominar a mente e o corpo daquela moça . Não há registro detalhado do sofrimento imposto à filha e consequentemente à mãe, mas era algo devastador.
Ele gritava. Jesus ouviu, mas ficou em silêncio.
O que fazer quando Deus fica silencioso depois de uma oração? Ele não deveria responder logo, e livrar as pessoas de todo sofrimento? A Bíblia fala em II Coríntios 12; 9 que o poder de Deus se aperfeiçoa nas fraquezas do cristão. Eu desconfio que ninguém aprende humildade, a não ser na escola das tribulações
O que fez a mulher diante do silêncio de Jesus? Ela continuou gritando, a ponto de perturbar os discípulos que fizeram o seguinte comentário: Senhor, despede esta mulher, porque ela vem gritando atrás de nós... E a resposta de Jesus, foi adequada aos ouvidos deles: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
E, Jesus ainda estava falando, quando aquela mulher mudou de atitude. Ajoelhou aos pés do Senhor e o adorou. E, depois, disse três palavras: "Senhor, socorre-me."
Houve uma mudança repentina na forma de pedir. Agora, aquela senhora deixou de gritar e passou a adorar o Senhor. Estava longe, e chegou mais perto. Seria algo como, deixar por um pouco uma extrema necessidade de lado para adorar e exaltar o nome do Senhor, o único lugar de onde pode vir o socorro.
A mudança de ação da mulher também provocou uma mudança de atitude do Senhor. Ele rompeu o silêncio para dizer um NÃO. Aos ouvidos daquela mulher não parecia um "não" absoluto, havia uma pequena oportunidade. E a oportunidade veio quando o Senhor a testou com estas palavras: "Mulher, não é bom deitar o pão dos filhos aos cachorrinhos.."
De novo a mulher surpreendeu ao Senhor com sua resposta humilde. Ela poderia ter ficado indignada com o aparente preconceito de ser comparada aos filhotes de uma cadela. Em vez disso, humilhou-se, porque o que estava em jogo não era o preconceito, mas a liberdade de uma filha do controle de um demônio.
--Senhor, não me importo que me chame de "cachorrinho", considere, apenas, que de vez em quando, algumas migalhas caem da mesa dos donos dos cachorrinhos. A Bíblia não registra, mas depois de ouvirem estas palavras, os discípulos de Jesus se esqueceram da origem daquela mulher.
Desta vez, o Senhor Jesus olhou para aquela senhora e exclamou diante de todos:
Ó mulher, grande é a tua fé! Seja feito aquilo que tu pedes. E desde aquela hora sua filha ficou liberta.
A oração ainda é e sempre será a forma mais eficiente de comunicação com Deus. Mas, sua resposta depende da vontade de Deus. E a vontade de Deus, na maioria das vezes, depende da postura de quem ora. A oração desde sua existência, que deve ter começado com a existência de Adão, nunca precisou de uma versão atualizada. Quem deve, se "atualizar" é o coração de quem precisa de uma resposta de Deus.
Quem era aquela mulher cananeia? Era ninguém aos olhos dos discípulos. Mas Deus tem o poder de transformar um ninguém em alguém pelo estímulo à oração. Quando uma pessoa fala, nem sempre é possível entender se é arrogante ou humilde, se é persistente ou desanimada. Mas quando uma pessoa reage é bem possível perceber os defeitos de seu caráter ou as virtudes que possui.
Pelo poder da oração, a mulher cananeia mudou a situação de sua filha. Primeiro gritou, depois continuou gritando. Quando viu que só gritar não ia resolver, se aproximou de Jesus, abaixou-se a seus pés e o adorou. Depois de ter adorado, fez a súplica em favor da filha. Mas, foi quando reagiu com muita humildade diante das palavras duras de Jesus que ela se mostrou seu caráter por inteiro: sábia, objetiva, corajosa, insistente, intercessora, humilde e por isso, vitoriosa.
O sofrimento é algo que nos aflige e humilha, mas, às vezes, ele é a única forma de comunicação que Deus permite para tratar de um coração arrogante e teimoso que não mais ouve ninguém.
Se é este o seu caso, saiba que o filho pródigo saiu de casa por conta própria. Mas, saiba também que seu Pai, todo dia, olha pelo caminho que ele um dia poderia voltar. Nada que o pai dissesse ao moço poderia dissuadi-lo da própria vontade de sair de casa. Ficou em silêncio. Foi o sofrimento que trouxe juízo àquele coração duro. Passou-se muito tempo, e um belo dia, aquele pai viu o moço voltando, e foi com uma oração humilde que ele disse ao pai: Pai, perdoa-me porque eu pequei contra o céu e contra ti. Já não sou mais digno de ser chamado seu filho, mas permita que eu fique aqui e trabalhe com um de seus jornaleiros.
A oração da mulher cananeia e a oração do filho pródigo são o tipo de oração que os ouvidos de Deus não conseguem resistir, porque elas trazem em si a essência da humildade. A oração, quando feita por lábios sinceros e um coração humilde, é poderosa porque provoca a resposta de Deus.
Esta forma de comunicação está fora de alcance da tecnologia atual, mas é acessível a pobres e ricos, homens e mulheres, crianças e velhos. Não é preciso dinheiro, para falar com Deus, mas é preciso as palavras certas e uma postura humilde.
A mulher cananeia quando chegou tinha uma filha miseravelmente endemoninhada. Passou por uma prova que revelou que era uma pessoa sem máscaras, mas no final saiu com seu desejo atendido e um elogio dado a poucos. Ela descobriu o poder da oração.
João Cruzué edita Olhar Cristão e é colaborador do Tenda na Rocha
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