Parecia ser o último fio de esperança...





Wilma Rejane

Pela fé caíram os muros de Jericó, sendo rodeados durante sete dias. Pela fé Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias.” Hebreus 11:30,31.

Jericó Situava-se em uma posição estratégica para o controle das vias de acesso que subiam do baixo Jordão até as montanhas da Judeia. Era uma das cidade-estados de Canaã com boa terra, água em abundância e muitas vinhas. Conquistar Jericó era uma das missões de Josué e ele o fez sob orientação Divina: o alto muro que circundava a cidade cai por terra após sete dias de vigília, quando o povo e os sacerdotes israelitas rodearam a cidade. Deus, miraculosamente derruba as muralhas fortificadas, abrindo caminho para Israel despojar a cidade.

Nesse cenário de conquista surge uma personagem gentia chamada Raabe, uma prostituta,  descrita em idioma original como “ Zônah”. A casa ou hospedaria de Raabe situava-se em cima do muro da cidade, com  vista privilegiada e uma ampla janela que lhe permitia conhecer a movimentação local. Os espiões de israel foram até Raabe buscar informações importantes, especialmente porque da janela de Raabe avistava-se os portões da cidade: quem entrava, saía, os horários de calmaria e de maior movimentação. E Raabe considerou os espiões não como inimigos, mas como servos do Deus que tanto ouvira falar. Para Raabe, aqueles homens estavam em missão Divina e ela sentia-se privilegiada em poder ajudá-los. Em vez de entregar os espiões para as autoridades de Jericó, Raabe os esconde no teto plano de sua casa, debaixo das canas de linho.

Entre os meses de Março e Abril acontecia a colheita do linho em Canaã. O linho era colocado sobre o telhado para secar, após isso era usado para confecção de roupas finas. Raabe cobre os espiões com as canas de linho, depois faz com que desçam por uma corda, pela janela. Raabe era uma gentia, aliás, a primeira gentia a ser abrigada entre o povo da promessa. A cidade de Jericó foi destruída, incendiada, toda a população dizimada, aquele território ficou como um deserto, mas um remanescente foi salvo por causa da fé de Raabe. 

Fico imaginando o extenso muro de Jericó derrubado  e apenas uma ínfima parte dele, a que sustentava a casa de Raabe de pé, uma janela e um cordão cor escarlate pendurado. Não é maravilhoso saber que os anjos de Deus preservaram a casa de Raabe? Enquanto tudo desmoronava havia um lugar guardado por Deus que não fora abalado, em nome da fé de uma simples mulher , e, claro; da fidelidade de Deus.


Da janela de Raabe

Aquele cordão escarlate era o fio de esperança, o sinal da graça, do amor, do perdão, do encontro com Deus. Da janela de Raabe ela via pessoas, ouvia histórias, quem sabe, buscava a Deus em oração, afinal, Raabe nutria em seu coração a certeza de que havia um Deus real e distinto dos deuses de Canaã: “Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Siom e a Ogue, que estavam além do Jordão, os quais destruístes. O que ouvindo, desfaleceu o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima nos céus e em baixo na terra.”Josué 2:10,11. E um dia aquele Deus vai a seu encontro.

Por que aquela corda era escarlate? Não podia ser a mesma corda comum usada pelos espiões para fugir pela janela? Não, não podia. Aquela corda tinha a cor do sangue, era como o sinal nas portas dos israelitas por ocasião da Páscoa, do Êxodo do Egito. Aquela corda era o “tiqvah”, um nome utilizado na Bíblia para esperança. Vejam o que diz o dicionário Bíblico Strong sobre a corda escarlata pendurada na janela de Raabe.

Tiqvah = esperança. Vem do verbo gavah que significa 'olhar esperançosamente numa direção particular, esperar por'. Raabe foi instruída a pendurar uma tiqvah em sua janela, pois essa palavra também é usada para designar corda, linha”. (Strong 08615).

 Raabe:

- Recebeu os espiões
- Fez aliança com eles
- Guardou segredo
- Reuniu a família
-Amarrou o cordão escarlata na janela

Essa sequência também pode ser traduzida da seguinte forma:

- Raabe recebeu a Palavra de Deus
- Creu em Suas promessas
- Guardou-as em seu coração
- Proclamou-as aos seus parentes, intercedeu por eles.
- Se refugiou em Cristo Jesus, a viva esperança de Israel e também dos gentios.
- Foi salva

A queda de Jericó é uma história triste, pois, muitas pessoas morreram em seus pecados e a cidade ficou desabitada por muito tempo: a terra se tornou infértil e as águas amargas, o lugar viveu seu apogeu e também seu infortúnio ( Josué 6:26 e I Reis 16:34). Anos depois de Raabe, o profeta Eliseu cura as águas de Jericó derramando sal sobre elas (II Reis 2: 19-21). Aprendo que a graça e a misericórdia de Deus trabalha em meio ao caos. Deus restaura o que se perdeu e em meio ao que se perde restará sempre um fio de esperança.

  • Aprendo que para permanecer de pé diante das adversidades é preciso se segurar nas promessas de Deus. 
  • A cidade desconhecia os planos de Deus para o lugar, foi pega de surpresa, mas Raabe e sua família foram salvos por meio da fé. Em meio as destruições diárias, é preciso não desanimar,  manter comunhão constante com Deus, por meio de Jesus Cristo e assim conservar o Espírito Santo para indicar caminhos e manter o ânimo.
  • Há diferença entre viver pela fé e viver por vista; para os incrédulos habitantes de Jericó os espias eram ameaças, precisavam ser mortos. Para Raabe os espias eram mensageiros de Deus que podiam indicar a salvação. Por qual perspectiva estamos enxergando a vida?
  • Era só um fio de esperança e Raabe se agarrou a Ele, agiu por meio da fé, segui as instruções dos espias e foi salva para contar uma história diferente e repleta de Deus. Que esse fio de esperança permaneça disposto, estendido em nosso lar, nosso coração, como identificação da fé no filho de Deus, Jesus Cristo. E que jamais nos deixemos desanimar ou perecer com os incrédulos.

Que Deus nos abençoe.

Bibliografia:

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Plenitude, Tradução João Ferreira de Almeida, São Paulo, Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.

ALLEN. Clifton. Comentário Bíblico Broadman. Tradução de Artur Antony Boorne 2. ed. rio de Janeiro. JUERP, 1994, v 2, 552 p.

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