Autor: Wallace Sousa
"Assim, pois, foram-se ambas, até que chegaram a Belém; e sucedeu que, entrando elas em Belém, toda a cidade se comoveu por causa delas, e diziam: Não é esta Noemi? Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso. Cheia parti, porém vazia o SENHOR me fez tornar; por que pois me chamareis Noemi? O SENHOR testifica contra mim, e o Todo-Poderoso me tem feito mal." Rt 1.19 a 21
Detendo-me a meditar nisso, comecei a refletir e gostaria de compartilhar com você alguma coisa sobre isso, tudo bem?
1. A vida, às vezes, não é justa
Você poderia se colocar no lugar dessa senhora, e imaginar os sofrimentos que ela passou? Se já não fossem suficientes as agruras da estiagem prolongada, agora avalie a subsequente perda de marido, seguida pela perda dos filhos. E isso longe de sua terra, de seus parentes, amigos e auxílios conhecidos. Naquela época, a mulher era muito mais dependente do esposo do que hoje, e a perda de seus filhos foi um golpe a mais em uma vida transbordante de amargura.
Conhecedor de situações quase parecidas, onde meu pai teve que migrar do Nordeste em direção a “São Paulo” (ou Eldorado, para alguns… risos), em busca de uma vida melhor, fugindo do flagelo da seca, que abatia animais no campo e ânimos na cidade, posso ter um vislumbre da situação de Noemi. Se meu pai era obrigado a trabalhar de “sol a sol” para garantir o pão em casa, e minha mãe trabalhava “pra fora” para complementar a renda, e eu mal os via durante o dia, imagino que a vida que Noemi levava não era nada fácil.
Sim, a vida, às vezes, não é fácil, mas é a vida, e é assim que a vida é. Quanto a você, por mais que a vida lhe pareça injusta, a alternativa que lhe sobra é: viver a vida. Viva a vida, meu caro, minha cara. A vida, em parte, é aquilo que fazemos dela, e não só aquilo que ela faz de nós, ou nos faz passar. Se você está respirando, aproveite e viva a vida!
2. A vida, muitas vezes, é amarga
Amargura é uma palavra que, para alguns, é sinônimo de viver. Existem situações que são tão amargas que contaminam nosso espírito e ânimo de tal forma que a vida se torna uma fonte de fel e nós, um poço de amargura. Mas, mesmo reconhecendo que há coisas que não deveriam existir e, pior, que essas bombas insistem em estourar em nosso colo, não adianta virar as costas pra realidade e fingir que essas coisas não nos dizem respeito.
O amargor da vida existe e, na maior parte das vezes, independe de nossa vontade. Se certas coisas não dependem de nós, não adianta esquentar a cabeça e ficar se angustiando se não nada vai mudar, não importa o quanto você se estresse com isso. A vida pode ser amarga mas, às vezes, coisas amargas, apesar do gosto ruim, trazem grandes benefícios. Já comeu jiló? Não? É ruim, mas faz bem. Sim, estou falando por experiência própria, não precisa fazer essa cara… risos
3. A vida, às vezes, é incompreensível
Se você já tentou entender a vida e ainda não conseguiu, quer dizer, conseguiu dar um nó no cérebro, parabéns! Você faz parte do grupo de pessoas consideradas “normais” pela psicologia, pelo marketing, pelos cientistas, pelos vendedores de porta-em-porta e até pelo vendedor da barraca de churrasquinho (vulgo “filé-miau”, para alguns). Se você é torcedor fanático de futebol, pode perguntar para quem torce pelo seu time e para quem torce contra: “você pode me explicar o mistério da vida?”. Garanto, ele não vai saber, e se soubesse, não estaria torcendo pelo mesmo time que você, e nem contra, se é que me entende… #ironia
Querer entender a vida é mais uma fonte de preocupação e angústia que acomete 9 entre 10 pessoas vivas (a que sobrou ainda não atingiu idade suficiente para distinguir a mão direita da esquerda). Agora, sejamos práticos: você, para dirigir um carro, precisa entender o funcionamento dos pistões do motor e da rebimboca da parafuseta? Não, né! Então, tem gente que nem sabe o que é troca de óleo ou troca de pneu (não vou entrar em maiores detalhes, pois isso pode me custar metade de minha audiência no blog… risos), mas nem por isso deixa de dirigir ou andar de carro.
Sabe do quê mais? Viver pode ser um passeio também: às vezes tem solavancos, mas esse sobe e desce pode ser divertido, dependendo do ponto de vista. Encare a vida como um passeio, onde você é o passageiro, e verá como as coisas podem melhorar sem muito esforço, apenas boa vontade. Difícil é querer tomar as rédeas da vida nas mãos e não saber bem para onde ir, e acabar se frustrando e perdendo o ânimo. As vezes em que mais me decepcionei na vida foi porque achava que a vida tinha de ser do jeito que eu queria, e não entendia porque ela insistia em ser diferente, mas, quando me dei conta que a vida tem seu próprio rumo e molejo, parei de gastar energia com isso e procurei ser feliz.
E, para ser feliz, não é preciso entender de tudo, nem a todos. Pra ser feliz, basta estar vivo, e querer viver. O resto, vem, se tivermos paciência.
4. A vida, às vezes, nos revolta
Sim, eu reconheço: a injustiça, a amargura e a falta de lógica que a vida, muitas vezes, se nos apresenta nos causa revolta. Como aceitar tantas situações difíceis de engolir que vemos nos jornais, cada vez com mais frequência e intensidade? Como não se revoltar diante de pessoas que se utilizam do poder para serem e fazerem atos que os beneficiam, em detrimento da maioria?
A leitura de jornais, de sites e outras fontes de informação, repletas de tragédias, sejam locais ou nacionais, próximas ou distantes, individuais ou coletivas, vem corroborar esse sentimento de que as coisas vão de mal a pior e que não há nada que se possa fazer para mudar esse quadro, não é verdade? Todavia, se você é leitor assíduo ou ocasional deste blog, verá que não me canso (bem, não me cansar é um eufemismo, ok?) de postar coisas aqui que tentam ajudar pessoas desmotivadas a encontrar motivos para seguir em frente.
Muitas vezes, comentários em posts antigos, comentários que jamais esperava ver, como alguém dizer que tal post foi determinante para que sua vida tomasse outro rumo, que estava desistindo de tudo, mas que encontrou naquelas linhas perdidas no meio da espuma virtual da blogosfera, isso me faz ver que, para alguns, o que escrevo encontra eco em sua alma, muda sua percepção e traz novo alento. Por mais que a vida me revolte, não posso deixar que isso me impeça de continuar lutando para que a vida de alguém tenha sentido, nem que, para isso, eu tenha que escrever algo sem sentido, non-sense.
Revolte-se, mas não abandone a vontade de viver, senão sua revolta não valerá de nada, e, provavelmente, só trará mais revolta para alguém.
5. A vida nos faz amargos, mas Deus muda situações
Estou me lembrando, agora, de uma situação que aconteceu anos atrás, para ser mais exato, no século XX, quando as dificuldades financeiras de meus pais atingiram um nível de descontrole e eu me sentia vagando num oceano turbulento e bravio, sem ter onde me agarrar naqueles momentos de angústia profunda. Foi bem nessa época que eu atravessei pelo “deserto da vida”, a tenebrosa depressão.
Um dia, chegou um homem no comércio de meu pai, escoltado por um advogado, ameaçando meu pai de medidas judiciais, de tomar o resto do que ele tinha e até de prisão, caso ele não honrasse o acordo que ele veio propor. Apesar de eu já ser formado, de ter rompido a barreira do 20 anos e me considerar uma pessoa razoavelmente instruída, aquilo foi um terremoto em minhas emoções já abaladas. Aquilo não apenas me balançou, não, eu fiquei totalmente desequilibrado. Só me lembro que saí em desespero em direção à igreja, no culto de oração do meio-dia, com as lágrimas rolando pela face, sem me importar com mais nada. Não foi uma experiência agradável.
Entretanto, hoje, escrevendo isso, vejo que a boa Mão de Deus me guardou, não só a mim, mas também a minha família. Passamos por aquele deserto, vencemos aquela prova, saímos do lado de lá. O que aconteceu? Simples, Deus mudou a situação. Deus muda situações, reverte quadros e tira do cativeiro. Como? Só quem passa por isso sabe e entende. É difícil explicar, mas é muito mais real do que você possa imaginar.
Aconteceu comigo, por que não pode se repetir com você?
Conclusão
Observe o caso de NOEMI, que significa graciosa, doce, agradável. Veja o que ela passou, e que a marcou de tal forma que ela sentia vergonha de ser chamada pelo antigo nome. Ela queria mudar de vida, como não conseguiu, mudou de nome. Mara (amarga) era a representação da derrota, da angústia cotidiana que a perseguia: “cheia saí, vazia voltei”. Ela estava cheia, mas de amargura, um cálice de fel transbordando. Talvez esteja assim com você hoje, mas, assim como Deus ainda não havia terminado Sua obra na vida de Noemi, Ele ainda tem algo a fazer e realizar em sua vida.
Sim, Ele é o Deus que muda situações. Hoje, você pode estar bebendo um cálice de fel, mas na mão divina, ainda há mel. Hoje, você pode ser Mara, mas Deus tem algo doce e agradável esperando por ti. Sua vida, sua história, vai mudar. Se sua vida hoje pode ser resumida “De Noemi a Mara”, espere pelo capítulo final, onde Deus vai escrever o emocionante desfecho “De Mara a Noemi”. Observe o fim do livro de Rute, o que diz:
As mulheres disseram a Noemi: “Louvado seja o Senhor, que hoje não a deixou sem resgatador! Que o seu nome seja celebrado em Israel! Rute 4 : 14
Wallace Sousa é autor do blog Desafiando Limites e colabora com o Tenda na Rocha desde 2012
Um comentário:
Texto muito bom. Tenho certeza que pode ajudar quem o leu.
Carlos Frari
Campinas SP
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