Seis lições extraídas da multiplicação dos pães e peixes



Wilma Rejane

“E, regressando os apóstolos, contaram-lhe tudo o que tinham feito. E, tomando-os consigo, retirou-se para um lugar deserto de uma cidade chamada Betsaida. E, sabendo-o a multidão, o seguiu; e ele os recebeu, e falava-lhes do reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura. E já o dia começava a declinar; então, chegando-se a ele os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que, indo aos lugares e aldeias em redor, se agasalhem, e achem o que comer; porque aqui estamos em lugar deserto. Mas ele lhes disse: Dai-lhes vós de comer.

E eles disseram: Não temos senão cinco pães e dois peixes, salvo se nós próprios formos comprar comida para todo este povo. Porquanto estavam ali quase cinco mil homens. Disse, então, aos seus discípulos: Fazei-os assentar, em ranchos de cinquenta em cinquenta. E assim o fizeram, fazendo-os assentar a todos. E, tomando os cinco pães e os dois peixes, e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porém diante da multidão. E comeram todos, e saciaram-se; e levantaram, do que lhes sobejou, doze alcofas de pedaços.” Lucas 9:10-17

Elaborei outros estudos sobre a primeira multiplicação de pães e peixes, porém, desta vez, abordarei detalhes não explorados anteriormente. Pretendo aqui examinar o milagre sob o ângulo : “o que Jesus nos ensina sobre economia?” Para alguns é um contraste falar em fé, milagres e economia ao mesmo tempo, afinal mercados e capitais são coisas bem terrenas e materiais. Ora, gerenciar bem os recursos terrenos é uma questão de mordomia termo absolutamente Bíblico.

Mordomia:  Manejo responsável dos recursos do reino de Deus que foram confiados a uma pessoa ou a um grupo.

Existem muitas passagens Bíblicas sobre mordomia, para simplificar o estudo, escolhi apenas uma:

“ E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar. “Lucas 14:27-30

O discípulo  na passagem acima é alguém que planeja, alicerça, edifica e realiza sem desperdícios. É alguém que arca com as consequências das renúncias feitas com base na fé em Cristo.  As ações revelam mordomia, pois, não são aleatórias e irresponsáveis.


Voltando para o texto base de Lucas 9, ele descreve uma multidão com mais de cinco mil pessoas que acompanhava Jesus  em um monte recoberto de relva em Betsaida (casa da pesca).  Anoitecia e era provável que ao voltarem para casa, alguns dos presentes desfalecesse de fome e sede, afinal, estavam o dia inteiro ouvindo Jesus e vendo-o realizar maravilhas. Os doze primeiros discípulos de Jesus sugeriram despedir a multidão, não havia condições de alimentá-la. André, valorosamente, lembra que entre eles há um garotinho com cinco pães e dois peixes, mas, o que seria aquela ínfima quantidade de alimento para tantos?

O milagre:

Jesus recebe os pães e peixes do garoto e miraculosamente multiplica-os até sobejar! Não sabemos se o garotinho estava ali vendendo pães e peixes, se carregava o alimento para adultos de sua família, não é dito. O que é dito é que André localizou o garoto, indicando-o como um destaque por obter recurso alimentar entre a multidão.

Muitas vezes o ato do garoto é exaltado para transmitir a mensagem de partilha, doação, generosidade e etc. Contudo, o cerne, o principal do ocorrido é o fato de Jesus operar grandes coisas a partir de pequenos recursos. Ou ainda: Deus pode transformar escassez em abundância, pode multiplicar e abençoar sobremaneira o que se coloca em Suas mãos.

A partir desses aspectos surge outros mais, essenciais, importantes para quem quer ser mordomo do Reino de Deus, vejamos:

Economia e gerência no monte da multiplicação:

Economia: É a ciência que estuda a escassez de recursos
Gerência: ação de gerir, dirigir e administrar

Identifiquei pelo menos seis lições de economia e gerência praticadas por Jesus naquele monte, são elas:

1-Não  fugir do problema, mas enfrenta-lo: os discípulos queriam despedir a multidão faminta e cansada,  consideravam que cada um devia cuidar de si, pois, nem eles nem Jesus tinham condições de alimentá-los. Estavam enganados. Muitas vezes, os problemas financeiros se avolumam de tal forma  que o devedor se considera incapaz de quitar a dívida ou negociá-la. Fome, cansaço, doenças, escassez de recursos materiais, tudo ao mesmo tempo, o que fazer? Fugir de um lugar para outro, deixar prescrever a dívida e ficar anos a fio com o nome sujo no mercado? Se entregar a pobreza, mendigar? Erga a cabeça e enfrente com fé e determinação, esse momento pode ser superado com a ajuda de Jesus.


2-Utilizar os poucos recursos que tem, não desconsidera-los: se André não valoriza aqueles cinco pães e dois peixes, eles não teriam sido fonte de bênção, não é mesmo? O que você tem, o que lhe resta? Bem se “só” resta a fé digo que é o melhor começo. Ore para que Deus lhe dê uma direção, um meio de recomeçar, ainda que de modo muito modesto. Lembre-se: havia naquele monte uma multidão, milhares de pessoas, mas foi a modesta oferta de uma criança que Deus utilizou para multiplicar e ainda sobejar. Bem, não sei se lhe servirá de conforto, mas eu já passei por grandes dificuldades financeiras. Meu esposo tinha uma empresa que faliu e eu recebia bem pouco como contratada em uma Associação ligada ao Banco do Brasil. E se achávamos que não podia ficar pior ; ficou.  Ele conseguiu um novo emprego e eu também, porém, devido à mudança políticas e doenças ficamos os dois desempregados e com dívidas. Mas isso foi no passado, graças a Deus, conhecemos a Cristo em meio a toda àquela dificuldade e vencemos, fomos pagando as contas devagar, uma a uma, até quitar todas. Estudamos com afinco para concursos e hoje eu e meu esposo somos concursados, não temos dificuldades em gerenciar as finanças e só fazemos o que está dentro do orçamento familiar. Dívidas são apenas lembranças de um tempo distante, Deus foi bom e revelou em nós Sua graça, aleluia!

3-Não deixar que o problema lhe absorva – Jesus organizou aquela multidão. Ele não se desesperou com tantas pessoas dependendo dEle,  não se deixou absorver pelo problema. Ele orientou os discípulos a organizarem grupos de  cinquenta em cinquenta e isso oxigenou o ambiente. Esse problema não é maior que você, nem maior que Deus. Existem outras áreas de sua vida que precisam de sua atenção. Assim, “separe, oxigene sua vida”. Nada de ficar prostrado se lamentando ou procurando culpados. Não se entregue a tristeza. Não enfrente o caminho da vida faminto. Alimente-se com a Palavra viva de Deus, nutra bem seu espírito e cuide do seu corpo, de sua mente.   Fazer exercícios físicos, voltar a estudar, são ações que edificam por devolverem melhores perspectivas de futuro. E para realizar essas coisas, nem sempre se precisa de dinheiro, mas de coragem. Existem praças, calçadões, lugares apropriados para caminhadas diárias. Existem cursinhos e/ou cursos profissionalizantes gratuitos. Se você é graduado ou pós-graduado, existem concursos abertos e material gratuito na internet. Enfim, se ocupar vai fazer bem.

4-Ter paciência: Observemos que houve um tempo entre a fome e o milagre. Jesus recebeu os alimentos (cinco pães e dois peixes), orientou os discípulos, organizou a multidão, orou, multiplicou, dividiu, enfim, planejou. Para quem está na escassez, há saída e para quem está na abundância, será preciso sempre paciência para planejar a fim de manter as coisas em ordem. Fazer orçamento, não gastar mais do que se ganha, priorizar, tudo isso faz parte da saúde financeira. Vejamos que não faltou pão, muito pelo contrário, sobrou! Muitas vezes se peca pela pressa: a roupa nova, o sapato novo, aquele móvel lindo para sala, tudo tem que ser comprado já! E lá se vai cartão de crédito e prestações fora do orçamento familiar. Será que algumas coisas têm mesmo tanta urgência? Melhor seguirmos os passos de Jesus no milagre da multiplicação: planejar, organizar, priorizar o que é urgente e necessário.

5-Não desperdiçar: é tão incrível ver que mesmo sendo dono de todos os recursos do mundo, Jesus teve o cuidado de ajuntar as sobras… Para onde foram aqueles doze cestos que sobejaram? Não é dito. Podemos imaginar que serviu de reforço para os viajantes durante a volta para casa, que foi doado para outras pessoas que encontraram pelo caminho...A certeza é que as sobras não foram para o lixo nem foram jogadas no monte emporcalhando o ambiente. Que bela lição para nós! Vemos que do princípio ao fim no milagre da multiplicação “as pequenas” coisas foram valorizadas. Uma ótima maneira de multiplicar recursos é ajuntar ainda que de pouco em pouco. Uma pequena quantia na poupança todos os meses, duas ou três peças de roupa a cada mês e assim vai se multiplicando. Ora, o fato de Jesus dizer para não ajuntar tesouros na terra, não significa não investir ou gerenciar bem os recursos a fim de viver bem. O que acontece é que essas coisas não devem ocupar nossa mente por completo, não deve ser a causa de nossas preocupações e abandono a Deus. Primeiramente vem o Reino de Deus e tudo o mais nos é acrescentado (Mt 6:33), agora, é acrescentado para bênção e não para maldição. Não cuidar bem dos recursos e deixar a família passar fome, se encher de dívidas não ter sequer um plano de saúde não é ser mordomo do Reino de Deus.

6-Não se distanciar de Jesus: sem Jesus naquele monte nada de extraordinário teria acontecido. A solução não estava em despedir a multidão, mas em aproximá-la de Jesus. Por pior que seja a situação, não abandonemos a fé em Cristo, Ele é a nossa salvação em todo o tempo, nos montes e nos vales. É possível que mesmo estando próximos de Cristo, a aflição nos alcance. Contudo, é Jesus quem provê a saída, o alimento, o conforto em meio ao desconforto:

Salmo 23:4 “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.”

Que Deus nos ajude a sermos mordomos fiéis, compreendendo a necessidade de administrar os recursos que estão disponíveis para nós, pois, desde a criação do homem esta foi a ordem: “sujeitai a terra que vos dei” Gênesis 1:28.

Deus nos abençoe, em Nome de Jesus.

Mais artigo do blog sobre multiplicação de pães e peixes:

A segunda multiplicação de pães

Um passeio pelo Mar da Galiléia

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BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Plenitude, Tradução João Ferreira de Almeida, São Paulo, Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.

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