Ele lançou um olhar profundo sobre tudo o que o rodeava e, a partir do que à primeira vista podia parecer corriqueiro, estruturou suas ideias. Mais de 2 mil anos depois, suas lições continuam atuais e extremamente valiosas
Passam-se os anos, mudam-se as estruturas, transformam-se as línguas. Mas as razões e objetivos de batalhas e angústias, ou de alegrias e contentamentos, permanecem muito parecidas. Tão similares que as lições proferidas por Jesus há milênios se encaixam na realidade atual.
Sua sabedoria, embora tenha nascido nos primeiros 30 anos da era Cristã, ainda hoje pode ser aplicada. Há quem afirme, inclusive, que este conhecimento está mais atual do que nunca, pois aborda temas de extrema importância do cotidiano de todos nós, transcendendo as questões de fé e religiosidade.
Com simplicidade, as lições de Jesus promovem o resgate das tradições e a manutenção da esperança e da luta. Sua palavra instiga as pessoas para que pensem sobre a realidade na qual vivem e, mais do que isso, sugere uma mudança de atitude.
Se lermos com atenção suas parábolas e sermões, veremos que ainda temos muito a modificar no mundo contemporâneo se quisermos instaurar suas lições de igualdade, justiça, liberdade, solidariedade, partilha e dignidade humana.
E você, está pronto para essa transformação? Confira, a seguir, dez lições para colocar os ensinamentos do Mestre em prática agora mesmo.
Os ensinamentos de Jesus Cristo são um convite ao retorno da simplicidade. No Reino de Deus, não há lugar para dissimulação e astúcia. Não há lugar para tentar ser o que não somos. Viver essa simplicidade significa abandonar preocupações fúteis e vivenciar o que realmente tem importância. Quem aprende essa lição se mantém sempre em equilíbrio, conhece a si mesmo e respeita as próprias limitações. “A nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com simplicidade e sinceridade de Deus, e não com sabedoria carnal, mas com a graça de Deus, nos temos conduzido no mundo, e especialmente para convosco.” (II Coríntios, 1:12).
Amar o próximo
O mais importante dos Dez Mandamentos é: “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças. E ame o seu próximo como você ama a si mesmo” (Lucas, 10:27). O amor ao próximo é a grande lição de Jesus Cristo para um mundo melhor. Praticar o amor, a caridade e a solidariedade não teria tanto valor se não servisse para construir um mundo mais irmão e mais justo. Nos dias de hoje, podemos dizer que esta máxima tem como pano de fundo um projeto econômico, político, social e religioso, pois amar ao próximo implica: não deixar que o outro morra de fome, denunciar as artimanhas e projetos políticos que não visem o bem comum, ser solidário e, claro, fazer o bem sem saber a quem. O amor verdadeiro é mais importante do que qualquer prática exterior. Por isso, para Jesus, nada tem valor se o homem vive em insegurança espiritual.
No Sermão da Montanha, encontramos a lição do julgamento. A máxima é não julgar para não ser julgado. Nele, Jesus se concentra numa situação comum: um cisco no olho. O texto por si já demonstra um valioso ensinamento: “Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu olho? Ou como poderás dizer ao teu irmão: deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mateus, 7:1). A mensagem que este ensinamento carrega é muito pertinente na vida moderna. Muitas pessoas, ao ocuparem-se com os erros e acertos alheios, esquecem-se de estar atentas às suas próprias condutas. Na maioria das vezes, as pessoas julgam pelas aparências e, com falsas moralidades, são mais imorais do que aquelas que estão sendo julgadas.
"Olhai as aves do céu: elas não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros e, no entanto, o vosso Pai celeste as alimenta” (Mateus, 6). A lição que devemos aprender com os animais é que de nada vale acumular riquezas e supervalorizar os bens materiais. A verdadeira fortuna vem da força espiritual, da fé, do amor incondicional, das relações que construímos com o próximo. Para quem acredita no contrário, Jesus Cristo manda o recado: “Mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus” (Marcos, 10:25).
Perseverança é caminhar em passos lentos e constantes. É confiar, mesmo quando não se sabe onde se pode chegar. Na Bíblia, Sara e Abraão apresentam-se como a primeira dupla de perseverantes de todos os tempos. Eles acreditaram nas promessas de Deus, mesmo tendo que esperar muitos anos. “(...) Abraão, ao ser chamado por Deus, obedeceu e saiu para uma terra que Deus lhe prometeu dar. Ele deixou o seu próprio país, sem saber para onde ia...” (Hebreus, 11:8). Desistir é certamente o caminho mais fácil. Afinal, existem longas batalhas e, muitas vezes, raros aliados. Mas, como ensinou Jesus, Deus espera de nós a mesma perseverança de Sara, que deu à luz inúmeros descendentes porque não se deixou abater por sua velhice, e uma paciência semelhante a de Abraão, que cumpriu as responsabilidades dadas a ele por Deus, mesmo tendo sido constantemente tentado a desistir.
Exercitar a fé
O exercício da fé é exaltado por Jesus em inúmeras passagens. Vários textos ilustram este ensinamento, como o relato da cura do cego Bartimeu: “(...) O cego disse-lhe: Senhor, faze que eu recupere a vista. Então, disse-lhe Jesus: Vai, a tua fé te salvou” (Marcos, 10:51). A lição é simples: “Tudo é possível naquilo que crê” (Marcos 9:23). A fé afasta medos, promove a autoconfiança e traz alento nos momentos mais difíceis da vida.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados...” (Mateus, 5:6). Os desafios que enfrentamos em nossas vidas são muitos. Jesus tem consciência disso e nos revela a necessidade de, mesmo diante das dificuldades, agirmos com justiça e retidão para, assim, alcançarmos o Reino de Deus. A crença em uma sociedade mais justa foi, inclusive, uma das grandes motivações de Jesus para que ele começasse a pregar e a espalhar seus ensinamentos pelo mundo. Aqui, ele reconhece que a luta pela justiça em todas as situações pode trazer sofrimento e nos estimula a não desanimarmos.
A trajetória de Jesus transparece uma forte resistência às situações de violência. Em momento algum, ele aconselha ou instiga seus seguidores a praticar atos violentos contra os inimigos. Pelo contrário. “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; desse modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e a chuva sobre justos e injustos" (Mateus, 5:43). A palavra de Jesus mostra que é necessário deter o ciclo da violência e não, simplesmente, dar curso a ele.
“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mateus, 11:29). Ao contrário do que se pode pensar, a humildade não tem nenhuma relação com pobreza, com a maneira de se vestir ou com o ato de nos rebaixarmos. A verdadeira humildade também não está nas palavras, mas na atitude. Jesus é o maior exemplo de humildade. Humildade é perseverar na decisão de esvaziar-se de si mesmo a cada dia, como disse Jesus: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23). Ninguém pode seguir a Jesus sem tomar a sua vontade – esta sim é primordial.
Ser feliz
Se as lições de Jesus Cristo funcionam como uma luz que ilumina a vida, nesta seleção de ensinamentos não poderia faltar este que é um dos objetivos mais buscados pelo homem: ser feliz. Mas, afinal, o que é felicidade? Como pobres e aflitos podem ser declarados felizes? A bem-aventurança, para Jesus, não enfoca a riqueza ou a pobreza, mas o apego ou desapego. A questão reside no interior da pessoa, no seu coração, no seu espírito. “Pois o Reino de Deus não é uma questão de comida ou de bebida, mas de viver corretamente, em paz e com a alegria que o Espírito Santo dá” (Romanos, 14:17).
*Texto de Paula Bianca de Oliveira com colaboração de Rafael Rodrigues da Silva, especialista em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, professor de teologia e co-autor do livro Bíblia: palavra de Deus, palavra de gente, da editora Paulus. Original Aqui
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