Wilma Rejane
Você conhece os Nuers? Esse povo é uma confederação de tribos localizadas no sul do Sudão (ao Leste do alto Nilo) e no oeste da Etiópia. Estudei os Nuers pela ótica do antropólogo Evans Pritchard e inicialmente o que me chamou a atenção foi a peculiaridade dos Nuers. Eles vivem no deserto e criaram várias estratégias de sobrevivência como por exemplo cavar enormes buracos na areia para se refugiar. O sobrevoar de um avião sobre o território Nuers é motivo de grande algazarra e espanto na tribo. Um outro detalhe interessante dos Nuers é que eles acreditam ser descendentes de Esaú e Jacó. Essa crença tem sido motivo de muitos conflitos com povos vizinhos, pois, para os Nuers, Deus os escolheu para herdar os carneiros do rebanho por serem próximos de Jacó. Quanto aos Dinkas, vizinhos mais próximos, descendentes de Esaú, Deus teria lhes confiado as vacas.
Os Nuers e os Dinkas |
Contudo, e tal qual aconteceu entre Esaú e Jacó, os Nuers dizem que os Dinkas enganaram a Deus fazendo-O acreditar que os Dinkas eram os Nuers e com isso roubaram-lhe todos os cabritos. E através da crença nesse mito é que estes povos vivem em constante guerra: os Nuers pegam os cabritos dos Dinkas alegando ser esta a vontade de Deus e os Dinkas, por sua vez vão até os Nuers e lutam para ter os cabritos de volta. Esaú e Jacó, portanto, são lembranças sempre presentes na vida desses povos. Outro aspecto que me chamou atenção na tribo Nuer foi o forte sentimento tribal. Quando forçados a mudar de um lugar para outro, eles levam consigo uma porção de terra da região natal. Todos os dias, os Nuers acrescentam terra nova àquela antiga. O sentido do ritual é romper os laços com o passado e encarar o presente como possibilidade de mudanças. Essa atitude dos Nuers em lidar com as mudanças me fez estabelecer conexões com um ensinamento Bíblico em especial:
“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Coríntios 5:17
Aquela velha terra do pecado vai ficando para trás, bem distante de nós, quando recebemos a verdade do Evangelho em nossos corações. A santificação é assim como o processo de adicionar terra nova na nova morada para transformar a essência. Com Cristo, deixamos de ser cidadãos do mundo para sermos cidadãos do céu e é esta nova morada (celeste) que deve prevalecer em nós. Esta nova morada é a esperança de uma mudança que se fará eterna e recompensará toda vida provisória, passageira.
Cristo na tribo Nuer
Ainda existem muitas tribos no mundo que desconhecem o Evangelho da salvação e ao nos depararmos com as excentricidades e peculiaridades de alguns povos ao redor do mundo é comum surgir indagações tipo: “ por que há tanta diferença entre os povos na terra? Por que a evangelização é tão inacessível para alguns e para outros não”? Essas inquietações humanas estão bem aquém da soberania Divina, pois para Deus o coração do homem, em qualquer lugar e em qualquer circunstância é absolutamente conhecido e acessível: as barreiras geográficas, físicas, biológicas não impedem o agir espiritual. Os Nuers, assim como os Dinkas e outras tribos, podem ser motivo de espanto e excentricidade para nós, para Deus, contudo, não há nada que não seja familiar.
“Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, de pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e segurando palmas. E clamavam em alta voz: A salvação pertence ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro".Apocalipse 7:9,10
Os Nuers receberam os primeiros missionários cristãos na década de 40 e muitas conversões aconteceram. Ao longo de todo o território Nuer existem aproximadamente 200 congregações cristãs. O livro de Gênesis foi traduzido para eles em 1954 . Você encontra uma versão do Gênesis para o povo Nuer Aqui. Uma versão mais recente datada de 1990 no idioma Nuer, você encontra aqui. É verdade que até os dias de hoje, mesmo depois da tradução do livro de Gênesis, os Nuer e os Dinkas brigam face o mito de Esaú e Jacó, muitos que se declaram cristãos ainda não apresentaram mudança no comportamento o que indica não ter havido de fato uma conversão. O lado gracioso da história dos Nuer é: eles sabem que existe um Deus e que esse Deus deu herança aos povos. Os Nuer só precisam saber que a herança não são vacas nem carneiros, mas o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. E Deus conhece os Nuers, se importa com eles e com toda e qualquer tribo por mais distante e esquisita que pareça para nós.
Deus os abençoe
Wilma Rejane é bacharel em Teologia, Licenciada em Filosofia e cursa Ciências Sociais na Uespi. É apaixonada por antropologia e história das tribos.
Bibliografia:
PRITCHARD. Evans. Os Nuer: uma descrição do modo de subsistência e das instituições políticas de um povo nilota. São Paulo, Perspectiva, 2013.
Um comentário:
Olá Wilma,
Gostei de conhecer os Nuers, nunca tinha ouvido falar deles. Sempre imaginamos que as tribos "exóticas" são difíceis de evangelizar assim como os indígenas, mas Deus olha por eles, envia missionários e faz maravilhas. Ao meu ver as tribos são tão dificultosas quanto o homem da cidade que vive cego pelos ditames do capitalismo...Para Deus não há impossíveis e sua obra vai seguindo o caminho até que se cumpra toda escritura.
Paz e bem.
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