Liberdade de expressão e Charlie Hebdo

Jovem francesa em protesto pelo massacre no Charlie Hebdo: "Liberté".



Wilma Rejane

A França e o mundo ainda estão perplexos pelo atentado ocorrido em 7 de Janeiro no jornal Charlie Hebdo. Após matar 12 jornalistas, ainda na França, as armas dispararam contra judeus no mercado público de Hyper Cacher. Diante dessa barbárie, surgem os debates que procuram compreender o homem sob diversos aspectos. 

Na sociologia dizemos que o selvagem não é bem o homem das cavernas de tempos remotos que se deslumbrava com o fogo e a evolução dos inventos. O selvagem é qualquer um, que mesmo vivendo na "civilização", perde o controle de si estando sob ataque. E daí vem o espanto: Como pode homens agirem como feras? E sob o aspecto aqui destacado (Charlie Hebdo) podemos estender as interrogações: Quem são as feras dessa barbárie? Quem puxou o gatilho primeiro?.

O silêncio dos mortos reascende debates antigos e sempre atuais sobre liberdade de expressão, religião e Estado. Esse silêncio violento grita por respostas. Respostas que talvez nunca aconteçam porque o inesperado está à porta da civilização. A medida de bem e mal é como uma balança desequilibrada pela desigualdade e o coração do homem é um universo bem maior que a via láctea. A história humana é repleta de tragédias que não se justificam e sempre surpreendem pela atrocidade.

 A frase mais pronunciada pela imprensa atualmente é: Je Suis Charlie (Eu sou Charlie) com um rápido rebate de quem tem todo o direito de pensar diferente: "Je ne suis pas Cherlie" (Eu não sou Charlie). A frase afirmativa foi criada pelo designer Joachim Roncin. Via twitter Roncin fez a hasthtag #JesuisCharlie# que se espalhou rapidamente pelo mundo como sentimento coletivo de luto e solidariedade. Já o "Eu não sou Charlie" foi uma reação coletiva e natural que caracteriza o desapoio aos cartoons publicados na Hebdo e também ao conflito religioso.

Bem e mal, sim e não, liberdade e opressão são inerentes na construção do homem e da sociedade de modo geral. Ainda que existam prisões tantas, o pensamento, por ser abstrato e ilimitado é livre. Livre? O que é ser livre? Podemos considerar liberdade aquilo que fere, agride e mata o direito de liberdade do outro? Sob esse prisma vejo como uma dicotomia, um caso inacabado esse de reivindicar Liberdade de Expressão quando ela não é revestida de moral, respeito e ética. De outra forma a liberdade se torna libertinagem ou se dá ao direito de mesmo sendo absolutamente radical, pregar a paz, em nome da guerra.


Aléxis Tocqueville foi um pensador frances que acompanhou de perto a revolução francesa e a inauguração do regime republicano cujo documento mais importante foi a "Declaração dos direitos do homem e do cidadão". Conhecido como certificado de nascimento da democracia moderna, entre outras coisas, o documento dizia que "todos os homens são livres e iguais em direitos", essa liberdade se tornou quase uma obsessão para Toqueville que criou um dilema bem conhecido de todos os franceses: " Igualdade com liberdade". O interessante é que esse famoso contribuinte da liberdade francesa costumava afirmar:

"Um dos mais importantes elementos da vida democrática é a liberdade de imprensa. A imprensa livre tem a função de impedir os atos de crueldade quando os divulga e chama atenção do público para isso. Amo a imprensa por considerar todo o mal que impedem".

E quando a imprensa excita o ódio, usa a liberdade de expressão para ferir a liberdade de religião, nacionalidade e outros? É curioso se falar em "liberdade de expressão" sem pensar que ela é uma via dupla, é dar e receber. Se a imprensa tem liberdade de expressão para atacar, o selvagem sob ataque também não teria a liberdade de expressão para se defender? A liberdade só se concretiza, de fato, quando não fere o bem comum, a ordem, a moral e a valorização da vida. De outra forma, liberdade não existe, é  utopia, hipocrisia. 


E em nome da "liberdade de expressão" assistimos: "Je suis Charlie, Je suis Policie, Je suis judeus, Je suis Humain , Je suis cristãos, entre outros. Quantos cristãos não são mortos diariamente por causa da fé? Não é uma incoerência perseguir cristãos em nome de uma liberdade de ser muçulmano, budista, seja lá o que for? Multidões na França e no mundo estão a dizer "Je suis Charlie", em nome de uma liberdade de expressão que só se concretizará de fato quando eliminar as desigualdades e praticar o bem para com todos. Um exemplo dessa liberdade está presente no caso do muçulmano que salvou judeus de serem mortos no atentado ao mercado na França, ao ser interrogado sobre seu gesto, respondeu:

" Eu ajudei judeus. Somos todos irmãos. Não é uma questão de judeus, cristãos ou muçulmanos, estamos todos no mesmo barco ."


É... Nem todos pensam assim e por conta disso, o barco vai afundando e a humanidade remando, remando, com remos dessincronizados. 

2 comentários:

Unknown disse...

Boa tarde, quero iniciar dizendo que na atualidade,"liberdade de expressão" se confunde com desrespeito. Sou contra uso de violência para o trato de qualquer questão, porém sei que aquilo que semeamos quase sempre colhemos. Vi uma "charge" nojenta e imoral feita com figuras que representavam, o pai, o filho e o espírito santo (de acordo com o entendimento dos "chargistas"). Mesmo vendo o quanto blasfemaram contra Deus, por tamanha falta de respeito, nenhum cristão usou de violência para "punir" tamanho desrespeito. Muitos repetem como papagaios " Je sui Charlie" eu lhes digo que Jesus tenha misericórdia da humanidade.

Wilma Rejane disse...



Oi Sandra,

Vi a charge do Charlie Hebdo debochando da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Representa total desprezo pelo cristianismo e exalta o homossexualismo. Aliás, esta não foi a única publicação anticristã deles, existe uma edição inteira debochando do nascimento virginal de Jesus.

Por mais absurdo que achemos, a humanidade de fato é Charlie Hebdo, uma porta larga em direção ao inferno, sem conhecimento da Palavra de Deus. O espírito do anticristo está atuando em nossos dias e por graça, bondade e misericórdia de Deus, não somos todos destruídos.

Somente a liberdade de ter Cristo em nós pode iluminar caminhos tão obscuros.

Deus a abençoe.