Wilma Rejane
Durante toda campanha eleitoral para presidência da República em 2014 me abstive de falar em política. Não por omissão, mas por não querer mudar o objetivo principal do blog. Hoje, no entanto, diante da onda de xenofobia (anti- nordeste e anti – Piauí) que se alastra, resolvi me posicionar e dizer (ao contrário do que muitos acreditam) que não foi o programa Bolsa Família principal cabo eleitoral do PT por aqui.
Vejamos: a principal liderança política atualmente no Piauí chama-se Wellington Dias. Ex bancário da Caixa Econômica e ex- radialista. Wellington saiu da presidência do sindicato dos bancários em 1992 direto para a vereança e de lá para cá só tem ascendido na carreira. Eleito governador em 2002, consegui reverter a posição do Piauí no mapa da desnutrição e pobreza. Wellington se reelegeu governador agora em 2014.
A principal militante de Wellington chama-se Rejane Dias. Evangélica, como primeira dama do estado, ocupou a Secretaria de Assistência Social e Cidadania. Rejane se voltou com muita dedicação a causa das pessoas deficientes criando os CEIR'S (Centro Integrado de Reabilitação). Wellington e Rejane têm um filho com deficiência motora e talvez por isso tenham se doado tanto à causa. A esposa de Wellington defendeu ainda e pela primeira vez no Estado, concurso para Ensino Religioso e apoiou igrejas e jovens talentos evangélicos.
No momento, no cenário político do Piauí esse casal é imbatível em popularidade. Com a campanha de Wellington para governador do Estado em 2014, Dilma esteve várias vezes no Estado.
Pois bem, depois de conhecermos quem é quem na política do Piauí, cabe dizer: por que o PT teve a maior votação do País nesse Estado? Antes, quero deixar claro que: não sou petista, não votei na Dilma. Votei em Marina no primeiro turno e em Aécio no segundo, votei em quem reconhecidamente tinha mais condições de tirar o PT do poder. Mas eu era minoria, a militância do PT trabalha muito bem por aqui.
A assessoria não deixa por menos: foi capaz de expôr a fragilidade da campanha eleitoral de Marina e Aécio. Na visita a Teresina ,em campanha para presidência, a candidata Marina foi um fiasco. Marcou comício para 19:30 horas e só compareceu próximo a meia noite quando praticamente todo o público tinha ido embora. Repercutiu mal e no dia seguinte não se falava em outra coisa a não ser na fraca assessoria da candidata.
Aécio Neves passou rapidamente por Teresina, participou de carreatas e comício e em seu palanque estavam as lideranças do PSDB rejeitadas nas urnas em 2014.
Aécio Neves passou rapidamente por Teresina, participou de carreatas e comício e em seu palanque estavam as lideranças do PSDB rejeitadas nas urnas em 2014.
Dilma veio a Teresina, fez comício, visitou os CEIR's, comeu farinha na feira pública, andou pelas ruas: inegavelmente Dilma tinha uma assessoria competente, a melhor entre os candidatos.
Dilma em visitas a CEIR |
O lema do PT no Piauí foi “vamos dar o troco ao candidato da elite, valorizar quem valoriza o pobre”. Aqui quero destacar o fato de o PT ser o único partido no Piauí com autoridade para defender esse lema. E para ilustrar essa situação reproduzo a matéria da BBC Brasil:
Reportagem BBC
"Esses aí tinham vida dura", diz o agricultor Francisco dos Santos
Nascimento ao apontar para quatro jumentos que repousam na sombra de um
cumaru, uma das raras árvores frondosas do Semiárido.Ali, no
povoado Contente, sertão do Piauí, o equídeo costumava passar os dias
com cangalhas no lombo carregadas de água ou lenha.
Então a luz elétrica chegou às 47 famílias do povoado. Depois, as cisternas, as motos e os ônibus escolares. A vida em Contente mudou, e os jumentos perderam funções. "Hoje, até eles estão mais gordos". Não por acaso, foi no Piauí que Dilma Rousseff obteve seu melhor resultado proporcional no primeiro turno: 70,6% dos votos, ante 14% de Marina Silva e 13,8% de Aécio Neves.
Então a luz elétrica chegou às 47 famílias do povoado. Depois, as cisternas, as motos e os ônibus escolares. A vida em Contente mudou, e os jumentos perderam funções. "Hoje, até eles estão mais gordos". Não por acaso, foi no Piauí que Dilma Rousseff obteve seu melhor resultado proporcional no primeiro turno: 70,6% dos votos, ante 14% de Marina Silva e 13,8% de Aécio Neves.
No Semiárido, que se estende por
nove Estados e onde cerca de 40% da população ainda vive no campo, sua
vantagem foi ainda mais folgada. No município de Paulistana, que abriga o
povoado Contente, Dilma foi escolhida por 80% dos 11,5 mil eleitores,
seguida por Marina, com 13%, e Aécio, com 5%."Se falar mal de Dilma aqui, periga apanhar", brinca a mulher de Francisco, Erismar Celestina dos Santos, de 34 anos.E se Aécio vencer a eleição? "Não quero nem pensar, me dói o estômago."
'Ajuda sagrada'
Em três dias de viagem pelos
"interiores", os povoados rurais da região, a BBC Brasil não topou com
qualquer sinal da campanha de Aécio e encontrou um único pôster de
Marina.Já adesivos de apoio a Dilma e ao também petista
Wellington Dias, reeleito ao governo piauiense no primeiro turno, eram
avistados a cada instante nas portas das casas.
Dilma deve grande
parte de sua força ali ao laço com Luiz Inácio Lula da Silva, cujo
governo é tido como um marco na história da região. Nos povoados, cada
um tem na ponta da língua os programas federais lançados pelo
ex-presidente.Maior
marca de sua gestão, o Bolsa Família costuma ser o primeiro da lista.
"É uma ajuda sagrada", define Erismar, mãe de um filho e que recebe R$
184 ao mês pelo programa.A iniciativa, no entanto, é considerada apenas um ponto de partida para várias outras melhorias ocorridas nos anos seguintes.
Francisco, Erismar e o filho |
Há
muito, os mais velhos contavam histórias de antepassados vindos da
África, e a comunidade ainda guarda os utensílios que embasaram o
reconhecimento: objetos pontiagudos usados para mutilar escravos e
fechaduras que, segundo se conta, pertenciam a uma senzala.Segundo o Ministério da Cultura, há hoje 2,5 mil comunidades quilombolas no país, onde moram 130 mil famílias.
Como
comunidades tradicionais e beneficiários do Bolsa Família passaram, nos
anos Lula, a ter prioridade na aplicação de várias políticas públicas,
logo os programas começaram a chegar.Em pouco tempo, o Luz para
Todos ligaria o povoado à rede elétrica. Hoje quase todas as casas de
Contente têm TV, geladeira e máquina de lavar.
Cada residência
também ganhou uma cisterna. Com o equipamento, que armazena a água das
chuvas, as famílias garantem seu abastecimento até a estação chuvosa
seguinte.Nas secas mais severas, os reservatórios são
reabastecidos pelo Exército, sem a intermediação de políticos locais. A
prática golpeou a chamada indústria da seca, pela qual autoridades
trocavam favores por votos.
Antes das cisternas, lembra Jucélia,
todas as madrugadas as mulheres deixavam suas casas em carroças para
buscar água com cabaças. "Tinha de cavar na cacimba com picareta e levar
na cabeça".
Construção de cisterna |
Com Lula, contam os moradores, também surgiram os
primeiros programas de proteção a agricultores. O mais citado é o Seguro
Safra, que em anos de colheita fraca, como este, efetua cinco
pagamentos mensais às famílias. Em 2014, eles dizem que as parcelas
foram de R$ 170.
Segundo os moradores, Dilma
não só manteve os programas de Lula como lançou outras três iniciativas
que beneficiaram a comunidade.Pelo Brasil Sem Miséria, extensão
do Bolsa Família, cada família recebeu neste ano a fundo perdido R$
2.400 para investir em atividades rurais. A maioria das famílias optou
por construir nos fundos das casas abrigos para rebanhos ou ampliar suas
criações de porcos, ovelhas ou galinhas.
E para garantir a
oferta permanente de água para os animais e pequenas lavouras, estão
sendo construídas na comunidade 16 cisternas-calçadões. Nesse sistema,
grandes placas de cimento canalizam a água para os reservatórios,
capazes de armazenar 52 mil litros, três vezes mais que as cisternas
comuns.Segundo Jucélia, antes dessas ações, o agricultor "ia
trabalhar nas roças dos outros para conseguir R$ 15 por dia para comprar
o leite pro filho".
"Era o tempo da proteção de Deus e do braço
pra cuidar da gente", lembra Maria de Jesus Nascimento, 76 anos e mãe de
11 filhos. "Era uma escravidão."Agora, como os repasses do
governo garantem as compras básicas do mês, os agricultores passaram a
investir seu tempo nas roças próprias.
Também foi no governo Dilma
que as crianças do povoado passaram a ser buscadas na porta de casa por
ônibus escolares amarelos, como os usados nos Estados Unidos.O
vaivém dos veículos, entregues às prefeituras pelo programa federal
Caminho da Escola, chega a causar pequenos congestionamentos nas cidades
da região.
O que não mudou
Apesar
dos avanços, moradores dizem que uma das principais vitrines eleitorais
de Dilma, o Mais Médicos, não teve qualquer impacto ali. Alguns ouviram
falar da chegada de médicos cubanos a municípios próximos, mas não
notaram melhorias. Eles dizem que há imensa dificuldade para agendar
consultas e exames.
A crítica ao sistema de saúde é o único ponto a
unir eleitores de Dilma e os raros apoiadores de Aécio na região, em
geral jovens assalariados das áreas urbanas.
Moradora de Paulistana, a
garçonete Valdene de Souza, de 27 anos, afirma que uma falha médica
ameaça deixar sua filha de três anos com sequelas para o resto da vida.Há
três meses, ela levou a menina ao hospital para examinar uma fratura no
braço. O médico, diz Valdene, avaliou que não era necessário
engessá-lo. Passado um mês, porém, o cotovelo da menina entornou.Ao
levá-la ao hospital regional de Picos, a 120 quilômetros dali, Valdene
ouviu que a menina deveria ter sido operada e que o dano talvez não
pudesse mais ser revertido.
Ela diz que, em vez de financiar obras
de calçamento e a construção de quadras esportivas na cidade, o governo
federal deveria ter priorizado os gastos com saúde. "Prefiro andar em
buraco a ver minha filha com braço torto pro resto da vida".
Valdene com a filha |
Valdene afirma que votará em Aécio em protesto contra o sistema médico e contra o Bolsa Família, que considera injusto.Ela
diz que, entre os moradores de Paulistana, há "pessoas muito bem de
vida" na lista de beneficiários do programa. "Tenho que trabalhar para
sobreviver e não quero que no fim do mês 30% do meu salário seja
descontado (em impostos) para sustentar os outros".
Em Contente, a agricultora
Maria Aparecida Nascimento Nunes, de 40 anos, foi na última quarta-feira
ao posto de saúde mais próximo para tratar uma dor na coluna e uma
inflamação nos olhos.Ela esperou pelo único dia da semana em que
há atendimento médico no posto – nos outros dias, só há enfermeiros. Mas
o médico faltara, e ela perdeu viagem."A saúde aqui é péssima", ela desafaba.A
avaliação, porém, não borra a admiração que Aparecida nutre por Lula e
Dilma por causa das ações de seus governos. "Quando eu vejo ela na
televisão, eu só me contento quando digo 'benção, mamãe Dilma'."
Além
de melhorar a vida dos moradores, ela diz que os programas das gestões
petistas conscientizaram os moradores do sertão sobre seus direitos. "A
gente estava tudo dormindo com o olho aberto. Hoje temos respeito."
Fim reportagem BBC
13 outubro 2014
Link para reportagem original
Voltemos...
Essas pessoas sofridas do sertão escolheram o candidato baseados na melhoria de vida que tiveram. Entre a fome, a sede, a miséria e o PSDB que nunca ofereceu-lhes melhoria de vida, a resposta era óbvia. Há a acusação de que os piauienses são todos ignorantes, a expressão que estão usando é "burros" mesmo. Mas PT é maioria também na capital Teresina. Na Universidade que curso (Universidade Estadual do Piauí), todos os professores eram não apenas por Dilma, mas anti-Aécio. A alegação era de que Lula foi o único que olhou para o Estado e Dilma prosseguiu. Nem a corrupção instaurada no governo do PT, nem a possibilidade de uma Ditadura, nem o péssimo desempenho de Dilma nos debates, conseguiram superar a visível constatação da realidade.
Claro, muito tem a ser feito no Piauí para que ele se desenvolva. Mas o que acontece no Estado em relação ao PT é fruto de investimento do próprio PT no Estado. Quem quiser vencer o PT por aqui, terá que trabalhar duro, fazer muito mais do que o pouco que se foi feito no Piauí nos últimos anos.
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