Cego Bartimeu e a invisibilidade do ser





Wilma Rejane

"E depois, foram para Jericó. E, saindo ele de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto do caminho, mendigando.E, ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim.E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: Filho de Davi! tem misericórdia de mim."Marcos 10:46-48


Bartimeu, filho de Timeu,  "Bar-teymah" ou filho da pobreza. estigmatizado pela doença e miséria, sem identidade.  Não sabemos se o nome era de batismo ou herança social, o certo é que representava um estado, uma condição imposta, pela própria família ou sociedade. Uma sociedade, que acreditava ser impossível a transformação, a passagem de um estado de derrota para   a vitória. Bartimeu era um homem invisível como tantos outros por quem passamos diariamente.

Quer seja nas repartições,  ruas, em nosso bairro, a invisibilidade do ser é uma realidade. Criamos escalas de importância para pessoas e nos conformamos com isso. Nos conformamos em soltar algumas moedas nas mãos de um mendigo, quando não mudamos de calçada, de caminho para não sermos incomodados. Passamos por crianças de rua e fazemos o mesmo, afinal pode ser perigoso se aproximar. Enfim, repetimos o que fizeram com Bartimeu: "Cala-te e permanece na sua invisibilidade".

Li recentemente o artigo sobre um psicologo que se vestiu de gari para concluir um trabalho na universidade sobre "a invisibilidade do ser", vejam que cruel é a nossa sociedade:



"Em novembro de 1994, o então estudante do 2º ano de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) Fernando Braga tornou-se invisível. 'Fiquei atordoado, não conseguia sentir o gosto da comida, perdi meu centro', lembra. Nem loucura nem ficção científica. Braga atingiu a invisibilidade ao vestir um uniforme de gari. Como parte de um estágio solicitado por uma das disciplinas que cursava, ele resolveu acompanhar, de duas a três vezes por semana, a rotina dos garis da Cidade Universitária - pegando no pesado junto com eles. Ao vestir calça, camisa e boné como seus colegas de 'varreção', esperava causar espanto, curiosidade ou até mesmo indignação em seus amigos, professores, companheiros de futebol e conhecidos da USP. No entanto, não conseguiu nem mesmo receber um bom-dia. 'Atravessei o andar térreo da Psicologia de ponta a ponta. Estava atento, buscava a expressão de surpresa em alguém. Mas nada acontecia', conta. 'Deixei de esperar perguntas intrigadas, mas ainda seria capaz de responder a algum cumprimento. Nada.' Os professores com quem havia conversado pela manhã passaram por ele e nem perceberam sua presença. Não é que tenha sido ignorado, menosprezado, rejeitado. Pior: nem foi visto. Era como não estar lá; como 'não ser'."

Jesus conseguia perceber não apenas as pessoas, mas seus sentimentos. Bartimeu foi visto por Jesus, curado por Ele e após isso, abandonou a miséria para seguir novo caminho. Por que é tão difícil para os cristãos desse século agirem como Jesus? Seria o aumento da iniquidade uma justificativa prudente para o esfriamento do amor?

Não me abstenho dessa crueldade, muitas vezes me pergunto por que não ajo como Jesus em determinadas situações? Por que não consigo enxergar os "invisíveis" que trafegam diariamente pelas ruas, repartições? Me considero tão miserável quanto qualquer miserável quando penso nisso.


Seria ingenuidade de nossa parte ouvir, parar, ajudar os " Bartimeus " da vida? Seria dar lugar a problemas, confusões? É de fato, inquietante conviver com as desigualdades sociais, com as injustiças.É inquietante constatar o julgamento social nivelando pessoas em razão da condição econômico-financeira.

O perigo está nos homens visíveis e " invisíveis". Mas uma coisa é certa: precisamos reconhecer nossas fraquezas e buscar diariamente discernimento através da comunhão com Cristo. Cristo em nós é a luz que muitos precisam para enxergar. Cristo em nós é a transformação da mente, do olhar, dos julgamentos.

Jesus entre os dois ladrões na cruz mais uma vez desmistifica a invisibilidade do ser ao penetrar no coração de um um deles.Para O Reino de Deus não há invisíveis, mas enquanto isso,  no reino dos homens há muito o que se aprender para que o 'ser' supere o 'ter' e o  amor sem temor supere o temor de amar. 

Deus nos abençoe

Fontes:

ALMEIDA. J. F. Bíblia Sagrada, traduzida, revista e atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2010, SP. 

Revista Época versão digital: Aqui


Um comentário:

Gileno Pontes disse...

Jesus filho de Davi tem misdticordia de mim....acho belisima e comovente esta expressao, de uma profundeza extrema, que comove o intimo,fragmenta a indiferenca de uma multidao egoista,voltada para um Deus individualista e usa a repreensao como um muro de divisao entre os mais fracos
,menos favorecidos. O TE CALA como uma forma repressorra, onde cada um defende seus proprios interesses, esquecendo do primeiro e do segundo mandamento, a corrida era tao ferrenea que tudo isso ficava para tras.a coviccao do cego era tao grande que nada o inibia e ele soltava a voz: Jeus filho de Davi trm misericordia fe mim! Um pedido cheio de graca e fe, atendido por um psi miseticordioso que esta atento a qualquer hora e a qualquer momento.Jorge Meneses Ribeiro - Rsperantina -pi