A cosmovisao política dos evangélicos

Por João Cruzué

Quando  os fariseus perguntaram a Jesus se era lícito pagar tributo a César, Ele foi pedagógico em sua resposta.  A questão tinha um viés político e a resposta também teve a mesma natureza. Hoje é 11 de outubro de 2014; estamos a duas semanas do segundo turno da eleição presidencial, então quero refletir sobre esta questão: O exercício da política é coisa do diabo ou de Deus?

Considerando que o Brasil é um país que  possui características que podem mantê-lo entre as cinco maiores economias mundiais, mesmo tendo muitos problemas de injustiça social, se olharmos para o contexto bíblico, podemos aprender com o posicionamento de Deus quanto a Israel, e de lá transportar nossas considerações para o presente e futuro do Brasil..

Antes, porém, é bom ver a grandeza de nosso país no contexto mundial:

EXTENSÃO TERRITORIAL:
Nosso país está classificado na quinta posição em extensão territorial; tem 8.515.767 km².  
Em primeiro vem a Rússia com 17 125 187 km²; 
em  segundo, o Canadá com 9 984 670 km²; 
em terceiro, a China com  9 596 961 km² e
em quarto, os Estados Unidos da América com  9 371 174 km².

POPULAÇÃO
Em população, o Brasil também está em quinto lugar, com  203.256.456 [1] (11/10/14, 11:14 h)
1º: China - 1.339.724.852 
2º: Índia - 1.210.193.422
3º: EUA - 318.892.103
4º Indonésia: 257.609.643

PRODUÇÃO DE RIQUEZAS
Produto Interno Bruto (PIB/GDP) , base 2012 - moeda: dólar americano
1º EUA: 16.244.600.000.000
2º China: 8,358,399,572,299
3º Japão: 5,960.180.293,678
4º Alemanha: 3,425,956,470,874
5º França: 2,611,221,274,736
6º Reino Unido: 2,471.600.098,476
7º Brasil: 2,254,109.312,134
Fonte: UN Stats (leitura: números acima de 2 trilhões de dólares)

COMPARATIVO DE INSTRUÇÃO
Brasil: adultos com diploma universitário: 5,63%
Fonte: TSE (2014)
Estados Unidos: Adultos com diploma universitário: 38,29%.
Fonte: census.gov


POPULAÇÃO  DE  EVANGÉLICOS
População evangélica estimada para dezembro de 2014 : 51.210.103 crentes  (25%)


Tendo feito esta contextualização, e demonstrado a grandeza deste país,  vamos verificar, agora, conceito ATUAL de Política.  Enquanto  o pensamento grego, com Aristóteles, pensava a política como a forma dos governantes lidarem com os interesses da cidade e vice-versa, já no pensamento moderno, Norberto Bobbio[I] (1904-2004), conceitua a política com uma ideia de poder.  Poder que pode ser exercido sobre a sociedade. Em um país democrático, este poder é consensual  e outorgado pelo pelos cidadãos por meio do voto. Esta relação foi analisada por Rousseau na obra Contrato Social[II]. Em troca da satisfação de  necessidades  (segurança, educação, saúde, assistência social, etc) o cidadão aceita pagar tributos em troca da tutela do Estado.

Quando o Altíssimo, Deus de Israel, planejou abençoar todas as famílias da terra através de Jesus Cristo, Ele começou com a escolha de uma família (Sara e Abraão), que foi ampliada em 12 tribos (Jacó), que se tornou uma nação (Israel), que foi governada por Juízes e Reis, depois, espalhada pelos quatro cantos da terra. Apesar de ser um povo pouco numeroso e uma nação pequena, Israel é próspero e poderoso. Eu Deuteronômio 28:14 Deus repetiu para os filhos de Israel, lá no deserto, que eles seriam  estabelecidos por cabeça (e não por cauda) entre as nações, mas só permaneceriam por cima se obedecessem os mandamentos do Senhor.


Para ser cabeça é preciso primeiro aprender a Lei do Senhor. O César Augusto da Bíblia somente veio à existência por permissão de Deus. César era o poder político, relativo. Deus é o poder absoluto, que mantêm o controle da terra. Feito estas considerações, para ser CABEÇA, é preciso aprender a exercer o mando e o  mando é  poder. Não com tirania, não de forma patrimonialista (eu sou o Estado e o Estado é meu) mas servindo, administrando, compartilhando, distribuindo as riquezas, eliminando a ignorância e a miséria, dois fatores que retiram a liberdade da pessoa.

O exercício da política no temor de Deus é tudo o que um país precisa. O exercício da política de forma egoísta,   com o aparelhamento das repartições públicas por nepotismo é vergonhoso. O exercício da política para roubar o direito e o recurso dos pobres e miseráveis, isto sim é que é uma política do diabo.

Quando Jesus pediu para mostrar a moeda do tributo, teve a intenção de reconhecer dois tipos de autoridade: Autoridade Política e o senhorio de Jeová. Em nenhum momento de sua vida terrena ele
divulgou opiniões que desrespeitassem as autoridades constituídas. Não fez isto com César, nem com as autoridades religiosas do Templo. Ele combatia, sim,  a hipocrisia dos fariseus e saduceus, mas a Bíblia não registra nenhuma frase do tipo: "Fora César" ou "Fora Fariseu". Jesus não era anarquista nem omisso. Ele tinha uma missão, e não mudou de foco.

Em todos os livros dos profetas do antigo testamento, uma verdade fica bem evidente: A vontade de Deus sendo martelada através da palavra de um homem santo, que exercia também uma função política: repreender, advertir, corrigir, abençoar, amaldiçoar, a nações e reis, Nos dias de hoje, a crítica aos rumos de um país não é mais feita por profetas, mas pela visão contrária de opiniões e partidos.

Deixar que um país inteiro seja representado somente por ímpios, só porque um irmãozinho acha que a política é coisa do diabo, é exatamente isso  que o demo mais deseja. É o que acontecia no meio pentecostal até a década de 80. A omissão é  uma das formas mais ignorante ou covarde de pensamento. O mundo jaz no maligno, isto é fato, mas a terra e seus habitantes não são propriedades do demo.

O exercício da política passa, sim,  por um caminho perigoso. Na tentação do deserto, quando o diabo mandou Jesus Cristo dobrar os joelhos diante dele para ganhar o poder de mandar em todos os reinos da terra, demonstrou  o desejo de ter poder absoluto para mandar nos outros, de usurpar a posição  de Deus, tem natureza maligna. É o brotar da soberba, a exaltação do egocentrismo,  o desprezo ao semelhante. Temos visto por aí muitos parlamentares crentes caindo nesta cova, e outros seguiram pelo mesmo caminho.

Tendo consciência dessas coisas, nós, evangélicos temos de levar em consideração duas coisas: com mais de 50 milhões de crentes, ou seja, um quarto da população brasileira,  não mais podemos aceitar aquele pensamento sofismático, diabólico, de que o senhor da política é o diabo. Por outro lado, não se pode dar lugar ao diabo exercendo a política de forma corrupta. Dependendo do exercício da política de seus governantes,  um povo pode ser levado à destruição e à miséria, como também pode ser guiado à prosperidade e à melhoria das condições de vida.

Se Deus falou no passado que a posição natural do crente é ser a cabeça e não, a cauda, devemos sim estar preparados para o exercício da política, tanto na esfera representativa, quanto participativa. Ser cabeça, quer dizer liderar. Ser cauda, significa aceitar a espora da impios,  em consequência de não andar segundo a vontade de Deus.

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