Sete lições do Centurião de Cafarnaum





Wallace Sousa

Por isso, nem me considerei digno de ir ao teu encontro. Mas dize uma palavra, e o meu servo será curado. Pois eu também sou homem sujeito a autoridade, e com soldados sob o meu comando. Digo a um: ‘Vá’, e ele vai; e a outro: ‘Venha’, e ele vem. Digo a meu servo: ‘Faça isto’, e ele faz”. Lucas 7:7-8
A história do centurião de Cafarnaum é bastante conhecida, não apenas no meio evangélico, mas em todo o mundo, cristão ou não. Por uma boa razão: é um exemplo prático de fé e como ela deve ser praticada. A história nos desafia a exercer um tipo de fé que, até aquela data, ainda não tinha parâmetro de comparação, visto que Jesus mesmo disse “que ainda não havia visto fé como aquela”. E, até hoje, é uma fé que não encontra rivais.

O centurião era o oficial romano responsável pelo comando de uma guarnição de 100 homens, que geralmente ficavam aquartelados em cidades estratégicas, fosse pela importância ou pela localização geográfica. E, em Cafarnaum havia um centurião que se destacou não apenas pela competência profissional, mas também ficou conhecido pela empatia pessoal e por uma fé ímpar, especial. Um tipo especial de fé que nos desafia hoje, mesmo passados dois milênios.

Esse homem tinha a reputação similar à que hoje possui um delegado em cidade do interior. Ele era a “autoridade” ou, como dizem alguns, em avançado estágio de decomposição embriaguês: “seu dotô otoridade“. Mas, uma coisa que me chama atenção nesse homem sem nome, sem passado e sem história – mas que marcou a História -, é que ele, apesar disso, era um homem humilde e simples, que atentava para as necessidades das pessoas ao seu redor.

Ah, como homens desse naipe fazem falta nos dias atuais. Infelizmente, muitos hoje, mesmo em posições eclesiásticas, mal sobem um tijolo degrau e já se consideram superiores aos demais. E o que direi de políticos, empresários e até mesmo aqueles que foram nomeados para nos defenderem, agindo como crápulas e criaturas de baixeza tal que encontro dificuldades em encontrar um nome adequado para qualificá-los?

Em meus sonhos de pura fé infantil, me vejo rabiscando um rol de pessoas a quem desejo conhecer ao chegar no Céu (depois de dar aquele abraço apertado no Senhor, óbvio… risos). E, nessa singela lista, rabisco facilmente os nomes de Josué, o maior líder de torcida organizada de todos os tempos (ganhava o jogo no grito), Moisés, seu tutor e destruidor de tutancamões (ou algo parecido). Poderia citar Noé, aquele do “meu barquinho em alto-mar“, e não poderia deixar de fora, claro, Davi, o terror dos gigantes. Mas, nessa lista ainda incompleta, vou achar um jeito de incluir uma nota de rodapé: “não esquecer de procurar o centurião sem nome“.

Assim, peço que me acompanhe nessa agradável caminhada na qual vamos tentar abordar o que esse anônimo famoso tem a nos ensinar sobre fé, amizade, confiança, humildade e autoconhecimento. Vem comigo.

Lições de Atitude, Fé e Humildade


1. Ele se preocupava com quem lhe era sujeito

Infelizmente, hoje isso é raro: pessoas em elevada posição que se preocupam com quem está abaixo de si. É muito triste ver pessoas investidas de poder utilizando dessa autoridade para pisar e humilhar os mais humildes e menos favorecidos. Caso você seja ou venha a se tornar alguém de elevada posição, seja social, profissional, eclesiástica ou política, aprenda com o centurião de Cafarnaum a dar mais atenção a quem lhe serve. Fazendo assim, essa pessoa continuará a lhe servir cada vez mais e por mais tempo ainda.


2. Ele não era orgulhoso de sua posição social

Outra mazela da atualidade: pessoas que gostam de mostrar sua posição acima dos outros. É o caso clássico do “você sabe com quem está falando?” na prática, a famosa “carteirada”. Isso deveria ser um caso de vergonha nacional mas, infelizmente, é um indício de vício cultural. Um vício contaminante, por sinal. Nossa sociedade apresenta sinais claros de que está enferma, e esse é um desses evidentes sintomas. O centurião nos ensina, através de seu exemplo, a não deixar seu caráter ser contaminado com sua posição.

3. Ele sabia diferenciar poder de autoridade

Apesar de ser bastante fácil de definir o que é autoridade e o que é poder, tornando ainda mais fácil distinguir um do outro, esse ainda é um erro banal e muito repetido, inclusive no meio eclesiástico. A melhor forma de demonstrar o que é um e outro é pelo exemplo, e esta será a forma que tomaremos de empréstimo para tal.

Pense em um guarda de trânsito, fardado e de apito na mão. Ele vê um pedestre querendo atravessar a faixa, mas os carros não lhe dão a vez, então ele se posiciona, aponta para os carros em movimento e faz soar seu apito em alto e bom som. O que acontece? Os carros param: carros pequenos, motos, carros maiores e até mesmo caminhões e ônibus cheios. Por que param? Porque ele tem autoridade e os motoristas a respeitam. Mas, o guarda tem poder para parar os carros? Não.

Entendeu a diferença entre autoridade e poder? O centurião tinha autoridade do império romano para dar ordens e manter a ordem, mas não tinha poder. Nunca se esqueça disso: autoridade é outorgada e revogada; assim como você um dia recebeu, poder perder. Mas, poder não se outorga e não se perde, ou você acha possível que Deus perca Seu poder?

4 . Ele exercia sua autoridade com confiança e convicção

A frase do centurião nos mostra que ele era um homem decidido e um líder confiante. Tanto ele era confiante que seus subordinados o obedeciam: “eu mando um fazer isso e ele faz. Digo a outro que vá, e ele vai”. Quando você é liderado por alguém que exerce sua liderança de forma confiante e convicta, obedecê-lo não é um fardo, mas um prazer. Dura coisa é seguir alguém que não sabe para onde vai, quanto mais enviar alguém para fazer algo ou para algum lugar.

Outra coisa importante sobre autoridade: o oficial romano exercia a autoridade em nome de outro, qual seja, o imperador. E isso nos ensina a nós, cristãos, que exercemos autoridade no nome de Jesus, mas o poder ainda é dEle, e não nosso. Você, que é líder na igreja, aprenda isso e exerça a autoridade que Deus lhe deu de forma a honrar Aquele que detém todo o poder, e confiou em você para exercê-lo em Seu nome. Dessa forma, você nunca perderá Sua autoridade.
5. Ele sabia que Jesus tinha uma autoridade sobrenatural

Isso é algo que me chama a atenção: um gentio que, na teoria, desconhecia o poder de Deus manifesto em Jesus, não tinha qualquer dúvida sobre a capacidade sobrenatural do Senhor em realizar milagres. Por sinal, uma coisa que os fariseus (“santos”) os “mestres da Lei’ viviam tentando desacreditar e distorcer: o poder sobrenatural de Jesus.

Infelizmente, esse é o tipo de coisa que ainda vemos acontecer: crentes duvidando do poder de Deus, de Ele realizar um milagre em nossas vidas, enquanto pessoas que não professam a mesma fé que nós, e não conhecem o Senhor como nós conhecemos, não duvidam que Ele pode realizar algo miraculoso e mudar o quadro de suas vidas. Essa é uma dura lição que nós, cristãos, aprendemos com o centurião: confiar mais no Senhor e crer que o milagre vai acontecer.

E você, faz como o centurião e também crê que o impossível Ele pode fazer em sua vida?

6. Ele sabia que uma palavra do Senhor poderia mudar qualquer situação adversa

Essa é consequência natural de crer no poder de Deus para mudar situações. O centurião demonstrou um tipo de fé singular, uma fé capaz de fazer tremer o pior dos demônios e de impactar o crente mais fiel. Ele mostrou a fé como ela deve ser, uma fé que, na maioria das vezes, temos medo de exercer, de colocar em prática. Nós, cristãos, somos impactados e desafiados pelo exemplo do centurião: crer que UMA palavra do Senhor pode mudar tudo.

Quantas vezes somos testados em nossa fé, e achamos que a situação está perdida? Nesses momentos, corremos aos pés de Jesus e pedimos que Deus reverta o quadro, esperando que Ele nos responda e nos dê o alento para seguirmos em frente. Mas, vai passando o tempo, as coisas não mudam ou, pior: pioram, e nossa fé vai esvanecendo e a confiança esmorecendo. Nós nos esquecemos, com relativa facilidade, da Palavra do Senhor, dita em nosso favor, aquela mesma palavra que choramos e nos alegramos ao ouvi-la…

Dizem que memória de brasileiro é curta, porque continua votando nos mesmos safados políticos de sempre, mas parece que a memória do cristão brasileiro é ainda pior. Se o eleitor se esquece de quem não presta, e continua acreditando nele, o cristão despreza o inesquecível. E se nós usássemos e ousássemos exercer a mesma fé do centurião, o que aconteceria? Sinceramente? Não sei… nunca tive coragem de crer dessa forma, embora, algumas vezes, tenha chegado perto.


Antes de desafiar você, meu caríssimo leitor, eu preciso desafiar a mim mesmo para crer como creu aquele homem. E, se eu não crer, o bicho créu em mim (risos).

7. Ele acreditava que a palavra de Jesus era poderosa para reverter o quadro

Algumas vezes em minha trajetória eu fui obrigado a crer no milagre. Geralmente isso acontecia quando não havia mais saída ou outra opção. Eu ficava sem alternativas, então só me restava crer. É mais ou menos parecido como naqueles filmes em que o mocinho está à beira de um precipício, com o mar lá no fundo, sem vontade alguma de pular. Mas, os inimigos estão chegando, querendo esfolá-lo vivo e ele, sem saída, pula. Na vida, apesar de não ser bem assim, é bem por aí! risos

Às vezes, Deus nos coloca nesses becos sem saída da vida justamente para nos dar aquele incentivo: Pula, meu filho, nos meus braços, que Eu te seguro! Mas, não é fácil. Aliás, não é NADA fácil. Como dizia um pastor amigo meu: a fé é um salto no escuro nos braços de Deus. O centurião, ao contrário da maioria de nós, quando ouve uma palavra da parte do Senhor, vai embora crendo que Ele vai resolver a situação. O centurião, não. Ele acreditava que a palavra do Senhor era poderosa e eficaz ANTES de Jesus proferi-la! Minino, isso é que é fé! Bota fé nisso, homi!


Conclusão

Um detalhe interessante acerca da identidade do centurião: por que não foi registrado seu nome? Quando Pedro foi visitar outro importante centurião romano, em Cesaréia, seu nome é revelado: Cornélio. Mas, por que a omissão ao centurião de fé? Não sei, mas posso especular que há um motivo para isso, e meu senso de curiosidade me diz que esse motivo pode ser até simples.

Nomeando o centurião, ele se tornaria exemplo de muitos, mas também um ideal que a maioria julgaria inatingível. Deixando-o anônimo, talvez Deus esteja querendo nos dizer que qualquer um pode exercer a mesma fé que aquele oficial romano demonstrou. Talvez a maior mensagem que possa ser pregada sobre o centurião dessa passagem não seja a que está explícita, mas a implícita: um herói da fé anônimo.

E esse talvez seja o maior segredo da fé: não aparecer, para que somente Jesus apareça. Não nos fornecendo o nome do santo, mas apenas o milagre por ele operado, Jesus pôde ficar em evidência na passagem, e apenas o nome dEle foi glorificado, apenas Ele foi o protagonista da história. Nesse filme que é a vida cristã, cujo roteiro foi escrito por Ele, somos meros coadjuvantes no Caminho da vida. Coadjuvantes como foi João Batista: que Ele cresça e que eu diminua.

Agora, acabei de aprender que um gentio, aliás, um gentil oficial romano, também abdicou da primazia e saiu de cena para dar lugar ao Rei. Ah, meu caro anônimo, como você me ensinou tanto, e nem sei sequer seu nome, para lhe agradecer por isso. Me aguarde no Céu (risos), que irei lhe procurar e lhe agradecer pessoalmente.

E você, aprendeu as lições do centurião de Cafarnaum? Que tal, agora, acreditar que o Senhor tem poder para fazer o milagre e esperar que esse milagre aconteça de verdade?

Wallace Sousa escreve o Desafiando Limites e colabora com o Tenda na Rocha

2 comentários:

Carol disse...

Gostei muito da reflexão! Que maravilhoso exemplo de fé o desse centurião!
Um abraço e fique com Deus.

Wilma Rejane disse...



Obrigada Carol,

Abraço fraterno em Cristo.