Relatos missionários
Quando eu estava crescendo, o Livro de
Deus chegou à nossa aldeia. Depois, eu também recebi o Livro de Deus.
Waraka me dizia assim: “Leia o Livro de Deus. Ele é o poder de Deus, a
Palavra de Deus. Por isso, leia o Livro de Deus”. Por isso, eu o lia e ele falava muito
bem pra mim. Eu lia o Livro de Deus o tempo todo. Eu vivia com o Livro
de Deus no colo, porque o amava. Mas, mesmo agindo daquela forma, eu
ainda não havia aceitado a Jesus.
Indo para a igreja eu ouvia sobre a
vinda de Jesus. Waraka, Wemko, Warafuru, Mahxawa e outros pregavam e,
por causa deles, eu passei a entender. Eles contavam que aqueles que
aceitassem a Jesus iriam para o céu. “Lá há uma cidade chamada
Jerusalém. É uma cidade sem defeito, para aqueles que tiverem aceitado a
Jesus e viverão para sempre”, eles diziam.
Por isso, eu passei a pensar em aceitar a
Jesus, mas eu tinha medo. Eu pensava em ir até Waraka dizer que eu
queria aceitar a Jesus, mas eu não ia. Até que eu decidi de vez. Fui até
Waraka e ele me disse para aceitar Jesus. Assim, eu aceitei a Jesus
quando ainda era solteira. Logo em seguida, Deus me mostrou meu marido.
Nós nos casamos e, logo depois de casarmos, eu me batizei e meu esposo
se batizou também.
Foi assim que aconteceu comigo. Eu ouvi sobre Jesus e aquilo me alegrou, por isso, eu o aceitei. Depois de bastante tempo, Deus nos
chamou para trabalharmos como cantores. Depois, eu adoeci e acabei
deixando de ser cantora. Depois, Deus me restaurou. Eu pensei que iria
morrer, mas Deus me restaurou. Ele não me deixou morrer, mas preferiu
que continuasse O servindo. Logo depois, Deus chamou meu esposo e eu
para sermos pregadores da Sua Palavra, para cuidarmos de seus servos.
Depois, quando o missionário Desmundo já estava velho,
ele me convidou para ajudá-lo no trabalho de tradução, para corrigir a
tradução. Depois ele convidou meu esposo também e nós passamos a
trabalhar juntos. Eu trabalhei pouco tempo com o Desmundo e
depois ele faleceu. Hoje nós ainda estamos trabalhando na tradução,
agora com a Maria, que Deus escolheu para ficar no lugar do Desmundo.
Foi assim que Deus mostrou amor e misericórdia por mim. Era isso que eu queria contar. Por enquanto é só.
Afya é esposa do pastor
Carlos Abraão e os dois trabalham juntos na equipe indígena de tradução
da Bíblia para o povo Hixkaryana.
Um dia estava traduzindo a história da
crucificação com um informante Krikati. No texto encontrei as palavras:
“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Eu procurava traduzir a
palavra “perdoar”. Por incrível que pareça, não encontrei uma palavra
na língua indígena que a traduzisse! Não existia a apalavra e nem o
conceito no idioma deles.
Tive uma idéia: “Que tal, perguntei, se eu escrever: Pai esquece o mal deles, porque não sabem o que fazem?”
“Está bom”, respondeu o informante. Raciocinei que “esquecer” seria o
mesmo que “perdoar”, neste caso. Mas, como muitas vezes acontece, ele
fez um comentário alertando-me que talvez eu estivesse enganado. Disse:
Fico pensando naqueles que não são crentes...
- Porque? Perguntei.
-Porque se Deus esquece o pecado deles, eles nunca poderão ser salvos!
-Nunca poderão ser salvos? Como assim?
-Porque Deus esqueceu que eles pecaram, e assim Ele nunca tira o pecado deles e nunca os salva.
Então compreendi que no idioma
Krikati-Gavião o esquecimento é sempre involuntário. Na nossa língua
falamos de “esquecer” o mal que alguém nos fez, não porque realmente
esquecemos, mas porque não guardamos mais aquilo em nosso coração. Isto
seria um esquecimento voluntário. Mas para eles o esquecimento é sempre
um lapso da memória. A palavra “esquecer” não me servia de maneira
nenhuma!
A tradução ficou: “Pai, raspa com a unha o mal deles, porque não me conhecem e por isso me maltratam assim.”
Há muitos crentes hoje entre os Krikati e os Gavião do Maranhão, cheios
de gozo e alegria, porque sabem o que Deus “raspou com a unha” o mal
deles e os deixou limpos. Essas palavras comunicam a mensagem de Deus ao
coração deles.
Missionário Stan Pries
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