Os judeus são o único
povo que nasceu com o dever divino de habitar uma região do planeta:
Canaã (Israel). No entanto, ao longo de seus 4 mil anos de história,
eles se tornaram a nação mais cosmopolita do mundo. As comunidades
judaicas hoje se espalham em mais de 100 países – do México à
Inglaterra, do Cazaquistão à África do Sul, de Cuba ao Japão. Com
exceção de Israel, os judeus têm vivido como minorias em todos
esses lugares.
“A história judaica
é marcada por sucessivas dispersões e diásporas dentro de
diásporas”, diz Luis S. Krausz, professor de Literatura Hebraica e
Judaica na Universidade de São Paulo (USP). “Essa história começa
com a destruição do Templo de Salomão pelo rei Nabucodonosor, no
século 6 a.C., quando os judeus foram levados ao cativeiro na
Babilônia. E continua até o século 20, com a dispersão e o
genocídio dos judeus da Europa.”
Tantas travessias
produziram uma diversidade de grupos judaicos que cristalizaram
costumes, idiomas e culinárias dos lugares onde viveram. E também
contribuíram para enriquecer as culturas locais. Nesta reportagem,
vamos viajar pelos momentos mais importantes da saga judaica através
das fronteiras.
Babilônia e
Império Romano
Os
judeus botaram o pé no mundo em 587 a.C., quando o rei babilônio
Nabucodonosor invadiu o antigo reino de Judá (ao sul de Israel). O
monarca arrasou Jerusalém e mandou parte de seus habitantes para a
Babilônia, na Mesopotâmia (hoje Iraque). Mas o que havia sido um
degredo imposto à força contribuiu para o florescimento do
judaísmo. “Foi durante o exílio que se impôs pela primeira vez a
todos os judeus a prática regular de sua religião”, diz o
historiador britânico Paul Johnson no livro História
dos Judeus.
“Também
foi reforçado o ritual da circuncisão, que os distinguia dos
pagãos, e o costume do shabat
(dia do descanso)”, diz Johnson. Os escribas redigiram as tradições
orais e compilaram os pergaminhos vindos do templo destruído. O
calendário judaico se aprimorou com a astronomia babilônica e
incluiu festas como o Pessach
(Páscoa), que recorda a saída dos hebreus da escravidão no Egito.
Apenas 50 anos depois, em 538 a.C., o rei persa Ciro permitiu a volta
dos judeus a Jerusalém e a reconstrução do templo. “Muitos
preferiram ficar na Babilônia, que permaneceu como um centro da
cultura judaica por 1,5 mil anos”, diz Johnson. Em 63 a.C., uma
nova reviravolta. O general Pompeu invadiu a Judeia e a transformou
em província do Império Romano. Terminava assim o reino dos
Hasmoneus – o último país judeu independente que existiu até a
criação do Israel moderno, em 1948.
A
tensão culminou com uma rebelião. Em 70, o general romano Tito
reprimiu os revoltosos, destruiu o segundo templo e mandou os judeus
a uma nova diáspora, que alcançou a Ásia, a Europa e o norte da
África. Mas ao contrário dos anos na Babilônia, o exílio nos
domínios romanos marcou o início das perseguições. “Os romanos
não toleravam o culto judaico a um Deus único nem costumes como o
shabat”,
diz o historiador francês Gerald Messadié no livro História
Geral do Antissemitismo.
A situação piorou com a conversão do imperador Constantino ao
cristianismo, no século IV. Em 325, o Concílio de Niceia acusou os
judeus pela morte de Jesus, o que serviu de base para o mito medieval
de que tinham poderes sobrenaturais e eram aliados do diabo. Os judeus foram proibidos de exercer funções
públicas, ter empregados e se casar com não judeus. Qualquer
semelhança com as Leis de Nuremberg, promulgadas em 1935 pelo
nazismo, não é coincidência.
Os
Sefaradim
No século 9, a comunidade judaica da Babilônia começou a declinar
e muitos rumaram para outros cantos do globo. Parte foi para o norte
da África, à região que hoje corresponde a Argélia, Marrocos,
Sahara Ocidental e Mauritânia. Lá se assentaram nos domínios de
duas tribos muçulmanas: os berberes, que eram exímios guerreiros; e
os mouros, mais tolerantes, que se dedicavam ao comércio, ao
artesanato e à ciência.
Como
os exércitos mouros estavam em franca expansão pela Espanha, os
judeus pegaram carona com eles – e ficaram conhecidos como
sefaradim (de Sefarad,
“Espanha” em hebraico). Produziram uma língua própria, o
ladino, impregnando de vocábulos hebraicos o espanhol medieval. A
união entre mouros, judeus e ciganos daria origem ao flamenco, que
até hoje é tocado e bailado como um hino à liberdade.
Nos
demais países muçulmanos, os judeus viviam como cidadãos de
segunda classe. Podiam seguire suas crenças nos dhimmis
(comunidades protegidas) desde que pagassem impostos. Seu status era
superior ao de pagãos e escravos. “No mundo islâmico, os judeus
desfrutaram de prosperidade nos séculos 10, 11 e 12. Houve explosões
de violência contra eles, mas esporádicas e locais”, diz o
historiador britânico Nicholas de Lange em Povo Judeu.
Alguns chegavam a ser ministros dos califas. O rabino Maomônides
(1135-1204), um grande filósofo da Idade Média, foi o médico dos
sultões no Egito.
“No século 13, quando o mundo muçulmano passou a sofrer pressões
dos cristãos no oeste e dos mongóis no leste, a condição dos
judeus piorou de forma dramática”, diz Lange. “Os líderes
islâmicos deram carta branca à intolerância religiosa.” Pior: no
século 15, Fernando de Aragão e Isabel de Castela (os reis
católicos) se uniram para acabar com o domínio muçulmano no sul da
Espanha. A Santa Inquisição queimava judeus como “hereges” e
pilhava seus bens.
Em 1492, os reis católicos derrotaram Granada, o último bastião
mouro na Península Ibérica. E expulsaram os judeus que não
aceitassem a conversão imediata à fé cristã. Os que quiseram
praticar o judaísmo de forma aberta emigraram para o Império
Otomano, que abrangia a Turquia, o norte da África e o Oriente
Médio. “A maioria, cerca de 100 mil, optou pela solução mais
fácil: fugir para Portugal”, diz Lange. “Foi uma decisão
equivocada. Cinco anos depois, o rei dom Manuel batizou os judeus à
força.”
Os
convertidos, continuaram sendo alvo de suspeita dos inquisidores.
Tanto que ficaram conhecidos como marranos
(“porcos”, em espanhol) ou anussim
(“forçados”, em hebraico). “Para muitos, a saída foi praticar
o judaísmo secretamente, correndo risco de vida”, diz o escritor
americano-português Richard Zimler, autor de vários livros sobre o
tema. Outros botaram o pé no mundo e se fixaram em todo o arco
mediterrâneo, sul da França, Holanda, Inglaterra e norte da
Alemanha.
Segundo Johnson, a diáspora sefaradim mobilizou judeus do mundo
inteiro. A chegada de refugiados a uma cidade provocava a expulsão
dos que lá viviam. “Muitos judeus converteram-se em vendedores
ambulantes”, diz. Vem dessa época a lenda antissemita do Judeu
Errante o sujeito que teria negado água a Jesus no trajeto até a
crucificação e por isso havia sido condenado a uma vida sem rumo. O
primeiro gueto da história, em Veneza, data de 1516. Outros cristãos
vieram para o Brasil, trabalhar em Minas Gerais ou nos engenhos de
Pernambuco. Em 1636, fundaram no Recife a primeira sinagoga das
Américas sob a bênção dos holandeses.
Os
Ashkenazim
A
saga dos sefaradim foi simultânea à de outro importante grupo: os
ashkenazim (do hebraico medieval Ashkenaz,
“Alemanha”). Eles se assentaram entre a Alemanha e a França, ao
longo do Vale do Reno, a partir do século 8, incentivados pelo
imperador Carlos Magno. A maioria se dedicava ao artesanato, à
fabricação de vinhos e ao comércio – conheciam como poucos as
rotas para o Mediterrâneo e o Oriente Médio.
“No
século 13, muitos ashkenazim foram para a Polônia atraídos pelas
oportunidades econômicas”, diz Lange. “Tinham em suas mãos a
maior parte do comércio.” A idade dourada dos ashkenazim acabou em
1648, ao serem alvo de uma rebelião dos cossacos, vindos da Rússia
e da Ucrânia, que investiram contra os judeus, matando perto de 100
mil e dizimando 300 comunidades. O antissemitismo tornou a Europa um
lugar perigoso. Judeus já haviam sido expulsos da Inglaterra em 1290
e da França em 1306.
“A
ausência de um Estado fez com que construíssem sua identidade com
base em parâmetros mais religiosos e étnicos do que nacionais ou
territoriais”, diz Krausz. Em geral, viviam como estrangeiros,
apenas tolerados. Não podiam reivindicar os direitos dos outros
cidadãos e pagavam impostos abusivos. Não tinham terras nem
participavam de corporações de ofícios, que só aceitavam
cristãos. “Restava-lhes o pequeno comércio e a lida com o
dinheiro”, diz Krausz. Os ashkenazim chegaram à Lituânia Ucrânia,
Moldávia e Rússia. Viviam num vilarejo semi-isolado, o shtetl.
Assim como os sefaradim, criaram seu dialeto: o ídiche, que mescla
alemão medieval com termos hebraicos e eslavos.
A
Emancipação
Quando os ventos da Revolução Francesa sopraram na Europa, os
judeus puderam sair do gueto e conquistaram a cidadania. Figuras como
Albert Einstein e Sigmund Freud moldaram o pensamento do Ocidente.
Mas, se por um lado o século 19 trouxe emancipação, também
instigou o nacionalismo. Os modernos Estados-nação acusaram os
judeus de não participar da cultura majoritária e, portanto, da
identidade nacional.
A
Rússia virou palco do pogrom
– uma perseguição insuflada pelos czares. Algumas matanças
acabaram com shtetls
inteiros e motivaram levas de emigrantes para ir para os EUA. A
partir de 1880, milhares de ashkenazim retornaram ao ponto de
partida, a Palestina. A Inglaterra assumiu o controle da região após
a Primeira Guerra e impôs restrições à imigração, apesar de
defender um lar nacional para os judeus bem ali, onde Davi havia
governado 3 mil anos antes. A imigração aumentou nos anos 30, com o
fluxo de judeus que fugiam do nazismo.
Após
a criação de Israel, em 1948, judeus foram expulsos de países
árabes onde residiam havia séculos. No Egito, que tinha 65 mil
judeus em 1937, restaram menos de 100. Na Líbia, nenhum. “Quando
meu pai era menino na Polônia, as ruas eram cobertas de pichações
dizendo: 'Judeus, vão para a Palestina!', quando voltou, em visita à
Europa 50 anos mais tarde, os muros estavam cobertos de pichações
dizendo: 'Judeus, saiam da Palestina!'”, recorda o escritor
israelense Amós Oz no livro Contra
o Fanatismo.
Os muitos judeus
Os sefaradim e os ashkenazim são os principais grupos, mas há
outros
Italianos
Vivem na península da Itália desde a destruição do segundo
templo, no ano 70. A eles se juntaram sefaradim deportados da Espanha
e de Portugal no século 15.
Norte
da África
São descendentes dos judeus que se assentaram ali por volta do
século 9. Também foram expulsos após a criação de Israel. Na
Líbia, por exemplo, não restou um único judeu. No Egito, menos de
100.
Mizrahim
Viveram
no Iraque, Síria, Líbano, Egito e outros do Oriente Médio desde a
Antiguidade, muito antes da chegada dos sefaradim, com quem são
confundidos. Sua fala e seus nomes são árabes. Os do Iraque
descendem de cativos que foram levados à Babilônia no século 6
a.C. Foram expulsos após a Independência de Israel, em 1948.
Teimanim
Chegaram ao Iêmen provavelmente no tempo de Salomão. Falam árabe
como os mizrahim, mas sua tez é morena-escura e possuem um folclore
muito típico. Expulsos após a criação de Israel, restaram cerca
de 200 no Iêmen.
Etíopes
Conhecidos como Beta Israel ou
falashas, têm origem
desconhecida. Teriam chegado lá nos tempos de Salomão ou se
convertido ao judaísmo em algum momento posterior. Em vez de
hebraico, usavam o ge'ez ou o am'hári como língua religiosa e eram
observadores estritos do shabat
e da kashrut (lei
alimentar). Eram quase 40 mil, viviam em campos de refugiados e foram
resgatados por Israel nos anos 80 e 90.
Indianos
O sincretismo do hinduísmo se combinou com a segregação do
sistema de castas – que acabou protegendo-os. Os judeus da costa do
Malabar viveram muito tempo separados do resto do mundo. Hoje são
cerca de 5 mil.
Chineses
Se assentaram em vários locais do país na Idade Média e foram bem
tolerados pelo confucionismo. A maior comunidade ficava em Kaifeng,
mas foi perdendo suas tradições. Hoje são cerca de 2,5 mil em toda
a China.
* Nota: Desde a escolha de Israel, como povo de propriedade de Deus, o inimigo tem sempre procurado destruí-lo. Ele costuma usar dirigentes políticos como Hitler, Nasser, Kaddafi, Yasser Arafat, mas também a imprensa de esquerda. O Holocausto começou com Faraó. Na peregrinação pelo deserto foi o rei Balaque que usou os serviços do renomado adivinho e "vidente" Balaão. Este era uma sumidade no terreno do ocultismo. Balaão deveria amaldiçoar Israel por meio de suas temidas maldições mágicas, o que falhou apesar de diversas tentativas. Contra a vontade de Balaque e Balaão, ao invés de maldição, esse falso profeta teve de pronunciar as mais gloriosas palavras de bênção: "Benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem... uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro" (Nm 24.9b e 17a). E é pelas mãos de Deus que também se denomina "Deus de Israel" que a história dos judeus se mantém viva, como um milagre entre as nações.
Texto:
Eduardo Szklarz ,Revista História , Ed.119 - Junho 2013 - Pág. 44 a49.
Nota: de Burkhard Vetsch, com acréscimo de Wilma Rejane
7 comentários:
Caríssima, saudações fraternas em Cristo!
É imperioso acrescentar, que o relacionamento entre Deus e seu povo é o maior dos valores que os judeus precisam manter vivo. E esse valor somente será perfeitamente restaurado no dia em que Deus voltar a governar através de Jesus, o Messias. Nesse dia, Deus não será mais como um mestre para eles; mas o maior valor, como um esposo, em um relacionamento profundo e pessoal. Paz profunda!
Saudações em Cristo, Pb.Maurício!
Um acréscimo essencial e necessário para enriquecimento do tema.
Muito obrigada,
Deus o abençoe
Muito se tem escrito e falado sobre os judeus. Vi num documentário da Discovery q Hitler ñ sabia quem era o seu pai biológico, seu nome de família "Hitler" foi dado pela sua mãe depois q Adolf nasceu(ele era mãe solteira, e Hitler tinha adoração por ela, pq ela lhe deu um sobre nome alemão) ela se casou c\ um homem cujo nome era Hitler, diz a história q por motivos familiares nunca a família materna de Adolf Hitler revelou publicamente quem era seu pai biológico, mas, a família sabia quem era o pai de Adolf , um alemão considerado judeu pelos seus, nascido na alemanha filho de um homem judeu e mãeñ judia, por tanto o avô paterno de Adolf Hitler era judeu, acendeu a fúria e o ódio dele para c\ o povo judeu. Acho provável. Já li tbm na bíblia em algum lugar , acho q apocalipses q a destruição e o castigo para Israel viria de um judeu... Agora nesses conflitos entre Israel e Gaza a profecia se repete Esse Benjamim Netan(Yahu) tem no nome Jesus em aramaico, (se ñ me falha a memória) seria só coincidência?? Ou esse é a volta do nome de Jesus e ñ a sua presença física no meio de nós??Xiiii , o fim esta mais próximo a cada dia!
Graça e paz! sou grato a Deus por ter encontrado este site que versa sobre a história do povo eleito. Sou Pastor da Assembléia de Deus e no momento estou lecionando um modesto estudo: Israel de Abraão ao futuro escatológico e este valioso artigo "caiu" como luva neste momento. Obrigado!!!
Deixo aqui uma experiência que tenho vivido em dias recentes: sou recém convertida, fui católica e hoje sou cristã ou evangélica, já que vivo hoje o Evangelho do Senhor.Desde então não sei como um profundo respeito nasceu em mim pelo povo judeu. Penso que é uma bênção ter sido chamado e escolhido para pertencer a o Deus único e verdadeiro.Sem contar que Jesus foi o presente que Deus nos deu e em parte é também de sua linhagem. Sei que mesmo não o tendo reconhecido como o Messias,eles terão direito pelo menos aqueles que o Senhor escolher para reinar em sua segunda vinda. Desculpe se falei bobagem estou aprendendo e ainda quero conhecer muito sobre a Palavra de Deus.
Frequentei segmentos evangélicos, peregrinando entre eles, procurando refinar a opção mais coerente da Lei de Deus, que estranhei nessas Casas. Saí em paz, da Igreja Presbiteriana, onde tenho amizades duradouras e ricas em conhecimento. Infelizmente, não logrei o alvo de filiar-me a uma Comunidade Judaica. Deliberei que tenho que ser aceito por D'us, tal como sinto. Continuo batendo na porta. Isto feito muito bem para mim.
Boa tarde eu não tenho nada contra ninguém,muito menos contra os que falam em nome de Jesus Cristo que aqui não é esse caso.Todos sabemos que os israelitas (judeus)não acreditam até aos dias de hoje que Jesus Cristo é o Filho de DEUS VIVO e que Jesus Cristo encarnou pelo poder do ESPÍRITO SANTO no seio da VIRGEM MARIA PADECEU FOI MORTO SEPULTADO E RESSUSCITOU ao terceiro dia conforme nos diz as escrituras.Não me parece que quem seja judeu tenha a ousadia em falar no APOSTOLO PEDRO e mais coisas do NOVO TESTAMENTO que vem neste BLOG que é de um israelita (será um israelita convertido ao cristianismo?)Pronto se assim for não me leve a mal.Continuação de uma boa tarde que a paz de Jesus Cristo esteja convosco.
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