As pedras do último inverno





Wilma Rejane

E em Jerusalém, havia a festa da Dedicação do templo, e era inverno. João 10:22

Era inverno e Jesus caminhou alguns minutos em direção ao templo de Jerusalém para participar da Festa da Dedicação. Aquele era um dia especial para a nação que por oito dias seguidos celebraria a dedicação de um importante templo. As paredes (externas e internas) e toda a estrutura havia sido restaurada no período de Zorobabel. A festa  era tradição desde 163 a.C. Um rei pagão sírio, chamado Antíoco Epífanes, havia profanado o lugar, causando grande revolta e tristeza aos judeus. E naquele inverno, havia júbilo no ambiente e na nação que solidária se unia celebrando a restauração não apenas de um lugar, mas de uma cultura e de um povo. Jesus estava lá, passeando nos cômodos, observando os detalhes e as pessoas. Era seu último inverno, depois viria a Páscoa e primavera e sua crucificação. Aquele templo estava restaurado após um longo período em escombros. Jesus também não ficaria na sepultura, Ele era o Templo que seria restaurado ao terceiro dia (João 2:19). Sua ressurreição, era o inicio de um Templo Vivo, mais espetacular do que aquele festejado no dia de inverno.

"Jesus passeava no templo, no pórtico de Salomão". João 10:23

E quando perceberam a presença de Jesus no templo, se aproximaram dele de uma forma hostil, interrogando-o sobre Sua identidade como não crendo que Ele era de fato o Messias. Meditei sobre essa passagem e relacionei-a ao comportamento de muitos homens (não descartando a possibilidade de me incluir no exemplo). Jesus era maior que aquele templo de pedras, tão festejado. Contudo, os presentes  O ignoravam e menosprezavam. Viravam as costas para Jesus e voltavam o olhar e a atenção para o monumento. Isso parece tão vazio e sem sentido, quanto invernos sem chuvas ou ventos. Tão terrível, quanto frio sem cobertor e sem teto. Jesus caminhou no inverno, para aquecer os corações gélidos e cansados, mas esses corações não o quiseram, preferiam o acolhimento das pedras que cobriam o local. 

Será que não estamos fazendo das pedras deuses e desprezando o Deus que carrega nossas pedras? Estamos confiando que a cada inverno Jesus virá em nosso socorro porque Ele mesmo disse que em todo e qualquer dia, quer seja de sol, chuva, tempestade ou brisa Ele não nos abandonaria?

"De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te desampararei.” Hebreus 13:5. 

Há uma palavra grega, que traduz muito bem o significado de confiar: “Confia ao Senhor as tuas obras e teus pensamentos serão estabelecidos” Pv 16:3. Confiar aqui é o mesmo que “galal” (Strong 01556) com o sentido de rolar, entregar, afastar, remover. A imagem é a de um camelo sobrecarregado.  Quando a carga está para ser removida, o camelo ajoelha-se, inclina-se para o lado e a carga desliza. Podemos nos ajoelhar em oração e fazer a carga deslizar em direção a Ele. A promessa é de que essa ação de entrega estabelecerá nossos pensamentos, modificará as ações, nos fará desviar o olhar das pedras que nos cercam na tentativa de causar-nos tropeços.

 "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei". Mateus 11:28. 

Tantas vezes, amontoamos pedras (problemas) e construímos templos e depois os tratamos como deuses. Olhamos para as pedras e esquecemos que Deus é muito maior que elas. Perguntamos os porquês e ignoramos Jesus que está tão perto, tão receptivo a nossa fé. Mas a fé morre, sufocada pelas pedras que não produzem frutos, tal qual a parábola do semeador: " A semente caiu no pedregal e veio o sol e a secou, porque não tinha raiz" Mt 13:6. E o solo se torna tão bom e fértil que a cada inverno podemos nos aproximar de Jesus e adorá-lo com intensidade, tão apenas pela fé.

Não permitamos que os templos de pedras construídos nesse mundo terreno ofusquem a visão do Reino de Deus. Não permitamos que a grandeza dos monumentos ( realizações, riquezas, sonhos, o que for) seja mais importante que o relacionamento com Jesus Cristo. Não permitamos que a doce voz e a suave presença de Jesus seja ignorada por nós em virtude dos problemas e aflições, não criemos muros de separação entre nós e Deus. Que o pecado jamais encontre morada em nosso coração, pois assim ele se tornará insensível, de pedra, frio para ouvir e seguir a Cristo.

Naquele dia Jesus foi a Jesus em segredo, não anunciou, não fez alarde. Sabe o que aprendo amigos leitores? Jesus está em nosso dia a dia, nos dias comuns, nos dias de aflição e também nos dias festivos. Ele está e muitos de nós não percebe porque não há alarde. Queremos sinais, pedimos sinais e não vemos e isso desanima. Mas não deve ser assim, pois a fé não é visão é coração, é relacionamento com Deus independente de podermos ver e tocar. Em Jerusalém o deslumbramento com aquele templo era visível, todos podiam tocar naquelas pedras e andar pelos pavimentos restaurados, confiantes de que tinham um novo lugar de encontro, de oração, intercessão e representação de civilidade e cultura. Mas aquilo não interessava tanto, não tinha valor, na verdade. O valor maior da festa era a presença de Jesus. Esse deve ser nosso ideal, nossa meta: Jesus conosco, sempre!

Que assim seja conosco.

Paz para você, em Cristo.

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